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quinta-feira, 22 de setembro de 2011
22 de setembro de 2011 | N° 16833
PAULO SANT’ANA
Um leitor sábio
O leitor André Kessler acertou na mosca na mensagem que me mandou: “A concorrência no trabalho, para tantos, é algo que assusta, para outros, nem tanto, e para uns é o que os move. Às vezes, me pergunto, lendo a tua coluna, se tens um concorrente, alguém que ameaça tomar o teu lugar. Penso também que podes não ter um. Talvez ele não exista hoje, mas como seria o perfil dele?”.
Acertou na mosca o leitor. Na mosca!
É que eu sou inseguro. Então, me impus um mecanismo mental perante o qual imagino que há sempre alguém querendo o meu lugar aqui nesta coluna.
E, nesses 40 anos em que escrevo aqui, sempre caprichei de forma a que ninguém cogitasse de me substituir neste meu lugar.
Agarrei-me firmemente à hipótese de que por qualquer motivo pudessem me substituir.
Por isso é que me esmero, chego a pensar que, não fosse eu tão inseguro, então minhas colunas não teriam a qualidade que, modéstia à parte, têm.
Temos então que a insegurança, que se pensava fosse negativa para as pessoas que a possuem, no meu caso é positiva, como disse o leitor que me provocou a esse assunto, é essa insegurança que se torna responsável pela qualidade do meu trabalho.
Chego a pensar delirantemente que os seguros escrevem mal, que precisa ser inseguro para escrever bem.
Como posso ser inseguro? – hão de perguntar. Sei lá, devo ter nascido inseguro.
A minha competição, pois, consiste nesse fantasma ameaçador que criei mentalmente. Estou sempre achando que, se eu não me superar, o meu cachimbo cai.
Deve ser por isso que os meus superiores aqui em ZH colocam para me substituir, quando não posso escrever, pessoas de grande talento, os chamados interinos.
E, quando eles escrevem em meu lugar, como são seguros do que fazem! Vêm com uma segurança que parece até que querem tomar o meu lugar.
Por isso é que sempre disse que minha profissão é competitiva. Tem muita gente querendo um lugar melhor do que ocupa. Como tornei este espaço em ZH um lugar invejável do jornal, quem é que não estaria disposto a ocupá-lo quando for chamado?
E por isso é que criei um dia um tipo inesquecível: o interino priápico, é o que vem com tudo. Quando é chamado, entra no palco com um afã e uma ambição invencíveis.
E eu tenho de ficar me cuidando dessas investidas.
Na vida, tudo também é assim. Um amante capricha com sua amante porque não quer perder o lugar no seu coração.
O lema dos que substituem ou têm desejo de substituir é o de que ninguém é insubstituível.
E o meu lema é o de que, quanto mais talento e trabalho eu mostrar, só assim eu não serei substituído.
Esse meu medo, confessem, foi uma coisa absolutamente certa e imprescindível.
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