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quinta-feira, 8 de setembro de 2011
08 de setembro de 2011 | N° 16819
ARTIGOS - Marco Antônio Bomfoco*
Desafios da educação básica
Os resultados de uma pesquisa divulgada recentemente demonstram que vivemos uma crise extrema na educação. Todavia, a pesquisa mostrou algo que já sabíamos: há um abismo entre o desempenho dos alunos das escolas públicas e o das escolas particulares.
Os alunos das escolas públicas concluem (atenção para o verbo) a educação básica sabendo muito menos do que os alunos que frequentam escolas particulares. Seja como for, não é o momento de nos vangloriarmos do nosso ensino particular, porque quando este é comparado ao oferecido em outros paí-ses, inclusive da América Latina, seus resultados são pouco mais que medíocres.
Para usar uma frase do educador Freinet, o escândalo é que nisso não haja escândalo. Assim é que, após todas as avaliações que demonstram o estado real do sistema educativo brasileiro, não se coloca a questão da eficácia das políticas adotadas até o momento. Pelo que vemos, o país que tem a pretensão de eliminar a pobreza e tornar-se potência mundial acredita poder fazê-lo sem educar sua população. Sem fortalecer a educação básica.
A motivação dos jovens está associada profundamente ao meio social em que vivem – é o que afirma o pesquisador da criatividade e do talento Mihaly Csikszentmihalyi. Na aprendizagem, as dimensões emocionais e motivacionais são tão importantes quanto as cognitivas, se não mais.
Como é o ambiente social na periferia de uma grande cidade como Porto Alegre onde se encontra a maioria das escolas municipais? Diante disso tudo, a cada dia mais pessoas sensatas e preocupadas se perguntam: o que fazer? O que percebemos é que processos enraizados no costume e na rotina parecem bastar para justificar as práticas existentes.
Quando, na verdade, precisamos repensar a aprendizagem de uma maneira que leve em conta quadros conceituais novos, como inteligências múltiplas, comunidades de prática etc. O ponto de partida para isto é reconhecer que as escolas também precisam aprender e portanto ser transformadas. As pessoas não têm dúvida de que o sistema permite muito pouco a inovação.
Vários impedimentos legais, mas ultrapassados, se colocam no caminho de uma escolarização eficiente. Desde o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que foi pensado sobre pesquisas dos anos de 1970, e já não é adequado à realidade atual de vida e de comportamento dos adolescentes, até a legislação educacional rígida que não permite novas experiências como a criação de escolas experimentais com relativa autonomia em relação ao sistema.
Por que não implementar, em alguns pontos e a título de experiência, as chamadas escolas charter, escolas públicas administradas como escolas particulares, ou seja, com independência administrativa e pedagógica?
Note-se que as escolas públicas diferenciadas, como as técnicas e as militares, apresentam desempenho muito melhor do que a escolas comuns. Fatores socioeconômicos e deficiências criadas nos centros de decisão continuam nos mantendo entre os últimos países do mundo em educação.
*Professor, doutor em Letras
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