sábado, 17 de setembro de 2011



17 de setembro de 2011 | N° 16828
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Mulheres

Deus fez o homem e o colocou num paraíso onde nada faltava. Mas o homem, Adão, não era feliz. Então o Senhor adormeceu Adão e lhe tirou uma Costela, fazendo a mulher, a companheira ideal para o homem, a parte que faltava. A Bíblia é fecunda na citação de mulheres que foram decisivas em determinados momentos.

No Rio Grande do Sul, a 19 de fevereiro de 1837, o Brigadeiro José da Silva Paes, por ordem do governo português, funda o presídio de Jesus Maria José, que vai ser o núcleo inicial da hoje cidade portuária gaúcha de Rio Grande. Antes, já havia preparado o cenário o aventureiro Cristóvão Pereira de Abreu, com seus “paulistas”. Acontece que na tropa de Cristóvão não havia mulheres. No contingente de Dragões do Brigadeiro José da Silva Paes também não.

Assim, no presídio Jesus Maria José – a não ser as poucas esposas de algumas autoridades – não havia mulheres. A solução foi importar mulheres de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. Tais mulheres, com espírito de aventura para deixar pago e família e rumar para o Sul, evidentemente não eram castas donzelas nem senhoras beatas. Como se disse à época, vieram “buscar estado, que aqui o tinham de desenvoltas”.

E aqui no presídio efetivamente essas mulheres tomaram estado, constituíram família e se tornaram, com o tempo, as grandes matriarcas das famílias mais nobres do Rio Grande do Sul. Sim, só elas, acostumadas às agruras da vida de “desenvoltas”, podiam suportar outras agruras, eventualmente mais cruéis, na dura vida do presídio.

A história do Rio Grande nos fala da descendência dessas mulheres. Ou de suas êmulas. No período da nossa formação, talvez a mulher mais decisiva tenha sido a Marquesa do Alegrete. Jovem, bonita e corajosa, mais de uma vez teve que empunhar a espada. O Marquês de Alegrete não era lá grande coisa, mas foi salvo para a história pelo grande valor de sua mulher.

No período farroupilha, há um episódio notável: comandava o “cuter” Minuano Tobias da Silva, da incipiente e precária Marinha Farroupilha. No barco, carregava a reserva de pólvora da República Rio-Grandense, com ordens de não deixá-la cair nas mãos dos imperiais.

O almirante inglês John Pascoe Greenfel, com forte esquadrilha, vigiava todas as saídas da Lagoa dos Patos, onde o farrapo buscava refugio. No Minuano, acompanhado pela esposa e pela tripulação, Tobias avisou que não se renderia. Fez descer os tripulantes em escaler e determinou que a esposa desembarcasse também.

Ela adivinhou a decisão do marido e se recusou a partir, preferindo ficar a seu lado. Os marinheiros que se afastavam remando viram quando Tobias encostava o morrão aceso à pólvora. Tobias, sabendo que ele e esposa morreriam inevitavelmente, a mão lhe tremeu. E foi ela quem agarrou firmemente a mão do marido para assim os dois entrarem para a eternidade.

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