segunda-feira, 26 de setembro de 2011



26 de setembro de 2011 | N° 16837
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Santa Casa

Os mais atentos percebem, dobrando a esquina do Hospital São Francisco, em plena Independência, um renque de fachadas antigas. São idênticas umas às outras. No passado, os aluguéis dessas casas serviam de renda para a Santa Casa. O que foi investimento imobiliário de nossos bisavós, hoje significa investimento em cultura.

Por detrás dessas fachadas alguma coisa acontece. A Santa Casa decidiu pôr abaixo as casinhas, preservando-lhes as fachadas. Tudo dentro da lei e das regras do Patrimônio Histórico.

Aliás, a demolição revelou um rico acervo arqueológico composto de objetos farmacêuticos. Com o recinto obtido, a Santa Casa está construindo algo novo, dentro de uma estética contemporânea: é o Centro Histórico-Cultural.

O projeto é ousado, fazendo caber, no espaço útil, um teatro com 300 lugares, um foyer, uma biblioteca, uma sala de usos múltiplos, uma cafeteria, uma sala de educação patrimonial, um museu, um arquivo completo com suas oficinas de restauração e, naturalmente, uma sempre bem-vinda lojinha.

O provedor, José Sperb Sanseverino, explica que não se faz mistura de dinheiros, isto é: nada se tira do complexo hospitalar para usar no Centro Histórico-Cultural, e nada do Centro se utiliza nos hospitais. Sábia medida, pois isso permite desenvoltura administrativa e, ao mesmo tempo, faz calar as eternas vozes repreensivas.

A pergunta do leitor é: por falar nisso, de onde vem o dinheiro?

Como instituição que não tem pressa, foi-lhe possível estabelecer um plano de captação de patrocínios e de financiamentos via as leis de incentivo.

Quando, às vezes, o administrador cultural vê-se na tentação de desapontar-se com essas leis, por força de seus maus usos, a Santa Casa faz reviver a convicção de que é possível, sim, usar honestamente a Lei de Incentivo à Cultura, financiamento que provém da renúncia fiscal do Estado, e a Lei Rouanet, do Ministério da Cultura.

Sem protagonismos individuais – embora seja impossível não falar na historiadora Vera Barroso, que há 25 anos trabalha nos arquivos da Santa Casa, na arquiteta Ceres Storchi e na coordenadora técnica Rosani Porto – anonimamente todos colaboram para colocar de pé isto que parecia um sonho.

As obras estão avançadas, e alguns setores já funcionam.

Quando pronto, e isso acontecerá em 2012, o CHC irá vitalizar uma área urbana com escassos serviços ao cidadão. O Estado agradece esse exemplo de bem administrar recursos que os poderes públicos destinam à cultura.

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