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domingo, 25 de setembro de 2011
DANUZA LEÃO
Perigosas tentações
O tempo passa e a vida vai nos fazendo menos crédulas e mais práticas; menos românticas
ENCONTRAR UM antigo amor é sempre embaraçoso -e complicado. Um dos dois fez o outro sofrer, claro, por isso não dá para dizer (nem ouvir) um "oi, tudo bem?", que poderia soar como uma cruel indelicadeza.
Em lugares com muita gente é possível disfarçar, apertando os olhos e fingindo que ficou míope, por exemplo. Pode também atender o celular (que não tocou, mas dá para fingir que ele vibrou) e cortar a possibilidade de uma conversa.
E conversar sobre o quê? Política, o último filme? Sobre o passado? Difícil, um encontro desses, e quando essas duas pessoas tiveram um grande caso de amor há muitos e muitos anos, nunca mais se viram e o acaso fez com que eles se encontrassem, aí é muito grave.
Primeiro é o susto, seguido de uma fração de segundo para reconhecer -quem diria?- o que foi uma grande paixão.
Essa hesitação acontece com os dois; não que um tenha se esquecido do outro, mas tudo aconteceu há tanto tempo que, quando esse encontro acontece, a ficha leva alguns segundos para cair.
Ele vai tentar reconhecer nela aquela mulher que tanto amou -sem conseguir. Ela vai achar que o tempo foi cruel com ele, esquecida de que o tempo passou para ela também.
Mais do que qualquer ruga, foi a expressão do olhar que mudou. Por expressão do olhar entenda-se o brilho das ilusões dos 30 anos, das esperanças, da certeza de que o amor seria eterno.
O tempo passa e a vida vai nos fazendo menos crédulas e mais práticas; menos românticas, sobretudo.
Quando eles se olham, se dão conta de tudo isso e de muito mais; sabem que cada marca no rosto, cada fio de cabelo branco, é resultado de outros amores que aconteceram desde a última vez em que se viram, das experiências pelas quais passaram, um sem o outro. É a dolorosa constatação de que a vida passou. Para elas, é sempre pior, já que as mulheres costumam ser dramáticas.
Como é possível perguntar a um ex-grande amor o que aconteceu nos anos em que não se viram, se ele sofreu quando se separaram, se esqueceu, se se apaixonou de novo?
E não poder dizer que em todo esse tempo nunca surgiu outro homem que apagasse a lembrança de tudo que eles foram, que quando toca a música que era a deles seu coração ainda bate forte, e que ela nunca perdeu a esperança de que ele um dia aparecesse dizendo que foi tudo um grande erro, que queria ela de novo para sempre; como dizer isso a um homem que não vê há 20 anos?
Não dá, simplesmente não dá.
Quando esse encontro acontece e os dois vão, civilizadamente, tomar um vinho, a conversa pode ser perigosa, e é melhor que mintam e não mostrem fotos dos filhos. O que está feliz não fala, por delicadeza. E o outro, que não é infeliz nem feliz, também se cala. Problemas sentimentais podem ser contados a amigos, não a ex-amores.
Mas tem pior. É quando ela reencontra esse homem que não vê há tanto tempo, esse homem por quem teria feito todas as loucuras, e não sente absolutamente nada. E pensa: "Como é que eu perdi tanto tempo com esse cara?" A autoindulgência a poupa de pensar "como eu era boba".
Por essas razões e mais umas 500, é prudente deixar o passado em seu devido lugar; mas se acontecer um desses encontros e pintar a vontade de voltar no tempo, é melhor ser forte e resistir à tentação. Mesmo sofrendo, se for o caso.
Em certas coisas não se deve mexer, e o passado é, decididamente, uma delas.
danuza.leao@uol.com.br
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