Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
09 de setembro de 2011 | N° 16820
DAVID COIMBRA
O riso d’O 11 de Setembro
O 11 de Setembro não é mais apenas uma data. É um personagem a quem as pessoas se referem empregando o artigo masculino singular definido: “O” Onze de Setembro. Como se fosse uma pessoa com vontades e CPF. Bem. Não é uma pessoa. Mas é, de fato, um protagonista da História.
O 11 de Setembro está para a História moderna como os Idos de Março está para a antiga. Se você não lembra o que são os Idos de Março, lembro: para os velhos romanos, 15 de março. Nessa data, em 44 antes de Cristo, Júlio César foi retalhado por 69 punhaladas, cobriu a cabeça com o próprio manto e caiu exangue aos pés da estátua de Pompeu, no prédio do senado da Cidade Eterna.
Aquela data mudou o mundo e chocou multidões. Desde então, as pessoas se referem a ela como “Os” Idos de Março. Tal qual se daria com “O” 11 de Setembro, 2055 anos depois.
Agora, a propósito dos 10 anos do 11, reli alguns dos textos publicados no 12. E lembrei de algumas das nossas reações, nós, brasileiros. Porque, em coisa de um par de horas depois do desmanche das Torres Gêmeas, começamos a fazer piada a respeito. Pequenas anedotas circulavam pelas redações, corriam as ruas e, à noite, já eram repetidas nos bares da cidade, entre risos. A tal irreverência brasileira fazendo o seu serviço.
Alguém dirá que isso só foi possível porque a tragédia deu-se do outro lado do Atlântico, a 10 mil quilômetros de distância. Verdade, mas, sete anos antes, num 1º de maio de 1994, o Brasil se comoveu com uma tragédia envolvendo um ídolo nacional, Ayrton Senna, que teve o crânio esmigalhado ao colidir com um muro de Ímola a 300 por hora. Senna era amado pelo país inteiro, e mesmo assim sua morte virou mote de cardumes de piadas já no domingo do acidente.
Essa reação representa mais do que a natural tendência ao deboche do povo brasileiro. Trata-se do grito de vitória das pequenas coisas sobre as grandes coisas. As Torres Gêmeas foram derrubadas, milhares morreram, o mundo nunca mais será o mesmo? Tudo muito importante, mas mais importante ainda é o que você vai comer no almoço, é o ônibus que não chega, é o mau humor do seu chefe, é a dor de dente, é o sorriso do seu filho, é a manteiga no pão do café da manhã.
Já cobri tragédias gigantescas, já estive em lugares conflagrados e sempre me admirei com essa força invencível das pequenas necessidades. As tarefas comezinhas têm de ser feitas todos os dias, e são feitas. E é isso, precisamente isso, que torna a vida tão poderosa.
As guerras trucidam milhões, os homens morrem, as empresas vão à falência, os governos se sucedem, as ideologias deixam de existir e o mundo continua seguindo o seu curso. As pessoas continuam nascendo e crescendo, continuam comendo e dormindo, adoecendo e sarando, trabalhando e vadiando, odiando e amando. E rindo. Nada mais singelo, iconoclasta e poderoso, nada mais humano do que o riso.
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