sexta-feira, 30 de setembro de 2011



30 de setembro de 2011 | N° 16842
PAULO SANT’ANA


Uma mensagem de pavor

Eu assisto à greve dos Correios, eu assisto à queima de pneus, assisto à greve dos bancários. Vejo tudo isso com muito respeito, menos a queima dos pneus, que isso acho muito grave, por implicar, além da indisciplina, a insurreição.

São respeitáveis todas essas greves. Mas há que se dizer também que existem pessoas que estão desempregadas e tentam, justificadamente, conseguir um lugar numa organização como essas, os Correios, a Brigada Militar e os bancos.

E, logo que conseguem ingressar nessas organizações, são as primeiras a sublevar-se e se tornam inconformadas com o que ganham, declaram-se em revolta e passam a usar do expediente da greve ou de qualquer rebeldia para verem aumentados seus salários.

Repito: tudo muito justo, tudo muito respeitável. Escrevo isso para depois não virem reclamar que sou contra grevistas e insurrecionais em geral. Não sou.

O que quero é comparar.

Eu só queria que essa gente olhasse ao seu redor e visse como anda a coisa pegando feio nos abismos do desemprego.

Eu só queria que lessem esta carta que me mandou ontem uma mulher que luta terrivelmente por estar desempregada.

Olhem o que ela me escreve: “Acordei mal, ontem, com dor no peito, sufocada, pois estou desempregada há nove meses. E não consigo emprego de jeito nenhum, por isso entro em depressão. Por isso, triste, choro todo o tempo. Então, meu irmão, que pertence a uma dessas igrejas evangélicas, me diz que eu vá na igreja, que aceite Jesus no meu coração.

É como você falou, Sant’Ana, as pessoas me pedem calma, dizem que vou conseguir, mas ninguém me ajuda e ninguém me dá uma força. Estou me sentindo feia, cheia de olheiras, as pessoas me pedem calma e me dizem que tenho saúde, não entendem meu sofrimento.

E eu desempregada há nove meses. Muitas, como você escreveu esta semana, dizem para eu ter calma e que isso não é nada. Mas é que estou morando de favor na casa de meu ex-marido, veja só, tive de trancar a faculdade da minha filha e ainda tenho de pedir dinheiro emprestado para meu ex-marido, veja só, logo comigo, uma mulher que trabalhou 16 anos no comércio. E todos me dizem que vai passar, que eu vou conseguir, não entendem a dor que estou sentindo e a humilhação por que estou passando.

Até um psiquiatra me dá remédios, mas nada do emprego, que é o que eu preciso. Devo estar ficando louca. Quero apenas trabalhar, será que não entendem isso? Como você escreveu, Sant’Ana, a dor nos pertence. E eu não sei mais o que dizer. (Ass.) Sandra Regina Pereira Peck(sandra.peck@hotmail.com)”.

É de matar, não é? Esta carta me estragou a semana. Será que alguém que ler aqui nesta coluna o drama dessa mulher poderá conseguir um emprego para ela?

Mas os revoltosos em geral têm de olhar para trás e ver que há muita gente que não tem sequer um emprego para poder entrar em greve ou queimar pneus.

Por isso, muita cautela, mirem-se na sociedade a que pertencem e capacitem-se de que é muito difícil e raro arranjar um emprego, às vezes é ainda mais complicado mantê-lo.

Calma, que ao nosso redor existe muita aflição.

Calma!

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