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quinta-feira, 22 de setembro de 2011
22 de setembro de 2011 | N° 16833
ARTIGOS - Stella Galbinski Breitman*
Sobre Melancholia e contemporaneidade
O artigo reflete sobre o filme Melancholia e faz uma comparação com fatos e sentimentos da realidade, no seu caráter de finitude e da inexorabilidade da vida. O filme, de Lars von Trier, traz a história do planeta Melancholia, que, segundo descobertas científicas, estava em rota de colisão com a Terra. A divulgação disso gerou reações em cadeia, alterando a vida de muitas pessoas. Os cientistas acreditavam que não haveria uma colisão, que, no último instante, o planeta voltaria, mas, coletivamente, não se tinha certeza disso. Daí resultam dramas diversos.
No filme, o mais dramático da condição do medo é a sensação de catástrofe, que acaba paralisando as pessoas ou levando a decisões impulsivas, como o caso do personagem que se suicidou. Ele era bem-sucedido na vida e demonstrava acreditar na versão dos cientistas de que não havia risco de colisão. Ficou evidente, contudo, que o medo leva ao desespero, e o desespero, às vezes, a ações dramáticas.
Interessante que a única personagem que não entrou em pânico é a que sofria de depressão. Ela aceitava a fatalidade, sentindo-se, aparentemente, aliviada pela confirmação do seu sentimento de desesperança.
Ela é quem acaba cuidando das pessoas a sua volta, criando um sistema de proteção, com o qual pôde consolar o sobrinho e a irmã. Estabeleceu, desse modo, uma espécie de “território mágico”, onde não haveria sofrimento. Na sua aparente fragilidade, foi a pessoa que se mostrou mais forte, aceitando o que estava para acontecer. Com seu traço psicológico, a aproximação do Melancholia era uma “libertação” das exigências da vida.
Para a maioria dos personagens, no entanto, o medo é avassalador. A melancolia sentida por todos, quanto mais se aproxima do fim, é algo muito triste, pois a família de protagonistas sabe qual será o desfecho: a destruição total. Seja isso justo ou não, será o fim! Esta é a lógica do filme, mas, na vida, embora existam riscos reais, há muitas situações em que se tem possibilidades, mesmo diante de acontecimentos trágicos.
O mais dramático do filme resulta da sensação do medo, já que o drama todo se passa diante da “espera” da catástrofe. Assim como na vida, o difícil é enfrentar a espera, a constatação prévia da fatalidade. Diante disso, as pessoas devem acionar recursos internos para sentir menos medo, mesmo em situações difíceis e dramáticas.
Há ações a serem empreendidas, estratégias de sobrevivência a serem desenvolvidas para lidar com as mudanças involuntárias, quase que resultado do movimento cósmico, que altera, no micro e macroambiente, o rumo das nossas existências. De modo análogo, enquanto o “planeta” não chega, o mesmo medo que pode paralisar a iniciativa tem força suficiente para acionar novas perspectivas e estratégias de vida.
*Mestre em Psicologia Social
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