terça-feira, 20 de setembro de 2011



20 de setembro de 2011 | N° 16831
PAULO SANT’ANA


Lendas sobre o Bagre

Os meus momentos de maior felicidade são quando trabalho me divertindo.

Ontem, por exemplo, fiz meu segundo programa Sala de Redação diretamente da Casa da RBS no Acampamento Farroupilha.

E me diverti a valer no debate do Sala com meus cinco companheiros de programa.

Não satisfeito, como o programa do Lasier Martins era feito também no Acampamento Farroupilha e nele se apresentava a grande figura chamada Bagre Fagundes, ingressei na transmissão e fiz seis versos de trova desafiando o Bagre, que respondeu. Eu fiz mais 12 versos de trova improvisada respondidos pelo Bagre, e mexi com os dele pra valer. Eu irrito o Bagre com muita facilidade, fico contando proezas dele, ele as nega. Porque, se fossem reais, pegariam mal.

Só que o Bagre Fagundes tem de se capacitar que ele pertence ao folclore da cidade e a respeito dele se contam lendas. E eu nada mais faço do que transitá-las.

São lendas, não são verdadeiras, mas elas se aplicam maravilhosamente naquele jeitão simples e espontâneo do Bagre Fagundes. Deixa pra lá, Bagre, são lendas.

O Bagre Fagundes é bacharel em Direito, chefe de família exemplar, ostenta a glória de ser parceiro de seu irmão Nico Fagundes na música Canto Alegretense, uma das canções mais delirantemente preferidas pelo público no cancioneiro regionalista. Além disso, Bagre é conhecidíssimo como colorado fanático, o que ele é, tanto que vai sempre inteiramente vestido de vermelho aos jogos do Inter no Beira-Rio.

Uma das lendas que se contam sobre o Bagre é que ele era candidato a vereador e estava em campanha.

E foi fazer campanha no Morro da Cruz, que então era uma das comunidades mais pobres de Porto Alegre.

Havia umas cem pessoas escutando o comício do Bagre. Ele subiu numa caixa de cerveja e falou para o público:

“Povo do Morro da Cruz, vocês têm água aqui?”.

Todos responderam com um sonoro NÃO.

“Vocês têm luz aqui?”, indagou novamente o Bagre.

A resposta do público foi um NÃO altissonante.

O Bagre insistiu: “Vocês têm escola aqui?”.

O público pela terceira vez pronunciou um NÃO.

O Bagre, então, não resistiu e gritou: “Então por que vocês não se mudam daqui?”.

E a segunda lenda preciosa que se conta do Bagre é que ele estava na mesma disputa ao cargo de vereador e foi fazer comício na Vila Dona Teodora.

Estavam umas 200 pessoas reunidas para ouvi-lo e ele começou:

– Povo da Vila Dona Teodora! Eu sei dos problemas que vocês enfrentam nesta Vila (hoje, a Vila está muito melhor, mas no tempo do discurso do Bagre a coisa era feia por lá). Eu sei como vocês sofrem aqui com a escassez de recursos, sem água, sem luz, sem esgotos, sem creches, sem nada. Mas eu sei como ninguém dos problemas de vocês porque eu também já fui chinelão.

O Bagre não gosta que eu conte isso. É que a gente, você que é folclorista sabe, Bagre, como ninguém, não pode censurar nem conter a lenda.

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