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sábado, 10 de setembro de 2011
10 de setembro de 2011 | N° 16821
PAULO SANT’ANA
Cadeira de rodas: só?
Vejam o caso do Hospital Conceição, que veio às manchetes por causa do episódio, que publiquei na minha coluna, da senhorita que tem o avô atendido lá. Ele está com câncer, tem a pele esverdeada, não há leito disponível para ele, que jaz numa cadeira de rodas na área verde.
Esse homem de 80 anos tinha de ter um leito, tinha de estar sendo medicado intensamente, tinham que estar ministrando-lhe medicamentos, tinha de estar sendo assistido por vários médicos, tinha de estar sendo alvo de radioterapia ou quimioterapia, enfim, tinha de sofrer tratamento contra o câncer.
Mas nada disso acontece. Ele está apenas sentado numa cadeira de rodas.
Não há leitos no hospital. É como numa discoteca não haver músicas.
O Hospital Conceição tem esse lado, que não sei se é bom ou se é mau: ele não recusa nenhum paciente. Quem bate lá é atendido, ou melhor, é recebido nem que não seja atendido, caso desse avô da moça que está desesperada e resolveu recorrer à imprensa. Há uns que recorrem à imprensa, outros à Justiça, quando deveriam recorrer só aos hospitais.
Enquanto o avô da menina desesperada jaz numa cadeira de rodas de corredor de hospital, a Fiesp afirmou que a corrupção no Brasil, em um só ano, consome de R$ 50 bilhões a R$ 84 bilhões.
Com esse dinheiro, poderia se sustentar todo o tratamento de saúde de todo o povo brasileiro por oito anos. Sem cadeiras de rodas nos corredores dos hospitais.
É linda, mas ao menos preocupante, a atitude tradicional do Hospital Conceição: ele não recusa nenhum paciente, na qualidade de maior emergência da Saúde gaúcha.
Não recusa nenhum paciente, mas não atende todos os pacientes. Vai empurrando com a barriga.
Com isso, ganhou-se uma consciência entre os doentes gaúchos: quem procurar o Conceição, será recebido, já disse, mesmo que não seja atendido.
Em vez de leito, põem o paciente numa cadeira de rodas. E ele fica ali, quando tinha de estar sendo atendido em larga escala em um leito.
Com isso, assegura-se que ninguém vai morrer abandonado, irá morrer numa cadeira de rodas, com enfermeiras por perto, embora não seja atendido por elas.
A corrupção corre solta em Brasília. Vão realizar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada no Brasil e se negam medalhas de qualquer cor aos doentes brasileiros.
Eu, que tenho câncer, e qualquer pessoa que trate com o câncer sabemos que o tratamento que se tem de dar a essa doença é sério, profundo, aplicado e prolongado. Sabemos que a cadeira de rodas não contém qualquer tratamento contra o câncer.
A cadeira de rodas, no caso, é uma metáfora do caos do atendimento de saúde em nosso meio. Até o Hospital Conceição, que presta relevantes serviços à saúde pública gaúcha, sofre desse caos. Como todo mundo sabe que todos os doentes são recebidos lá, os pacientes correm para lá.
Uns têm a sorte de serem atendidos, outros morrem ou vão definhando em cadeiras de rodas.
Os políticos brasileiros tinham de ser julgados por esse genocídio. Ninguém que tenha mandato pode ser declarado inocente.
O abandono da saúde pública no Brasil é um crime de muitos autores e nenhum réu punido.
É o fim.
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