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quinta-feira, 15 de setembro de 2011
15 de setembro de 2011 | N° 16826
LETICIA WIERZCHOWSKI
Armas e flores
Fiquei muito impressionada com uma matéria veiculada na ZH desse último domingo, segundo a qual uma mulher é assaltada a cada quatro horas na nossa cidade. A cada quatro horas, uma porto-alegrense depara com uma arma na sua cabeça. São atacadas, essas mulheres, quando entram ou saem dos seus carros, de preferência nos dias úteis, no começo da noite.
É isso que diz a matéria. Com sorte, o ladrão leva apenas o veículo, a bolsa e os pertences, mas vem aumentando assustadoramente o número de vítimas dos sequestros relâmpagos. Uma vergonha, um fantasma que vem assombrando o sono de mulheres de todas as idades – e nós, mães, somos, na maioria das vezes, aquelas que levam e trazem os filhos das suas atividades cotidianas. Ou seja, o medo vem por dois, por três, por quatro...
Em contrapartida, a cada quatro horas, uma eleitora desacredita das regras vigentes. Se votou nos políticos que estão aí, não fazendo absolutamente nada enquanto Porto Alegre é drasticamente sitiada pela violência, essas vítimas do sexo feminino vão pensar duas vezes antes de votar na próxima eleição. Evidentemente, acabar com a violência urbana no Brasil não é coisa para uma temporada ou duas, e exigiria uma profunda reformulação da nossa sociedade.
Mas o aumento substancial da violência aqui na nossa cidade, por exemplo, não espelha somente a pobreza, a falta de saúde, o precário ensino. Se aumentou tanto nos últimos meses, é porque espelha a falta de policiamento das ruas da capital do Rio Grande.
E, apesar dos pesares, vem aí a primavera... Depois desse comprido e chuvoso inverno, a gente pode ver, como num sonho bom, pequenas explosões de cor, o ardente vermelho e o rosa vibrante das azaleias que florescem como loucas pelos jardins porto-alegrenses. Depois de tanto tempo feio, semanas inteiras de céu cinzento pesando sobre nossas cabeças, o sopro dos dias azuis se anuncia novamente.
Na última casa da minha rua, agora condenada à demolição e tristemente abandonada há meses (no seu lugar teremos outro prédio nessa cidade que se ufana de ser a mais vertical das capitais), uma azaleia gigantesca causa um momento de cor e de alegria àqueles que passam pela calçada.
Da minha janela, vejo-a em toda a sua beleza, indiferente à decrepitude que aumenta ao seu redor. Tudo o mais é pó e abandono, a casa feneceu sem cuidados depois desse longo e úmido inverno, mas a azaleia não está nem aí. À entrada de setembro, ela ressuscitou alegremente. Talvez adivinhe que será essa a sua última primavera... E, por desprezo ou orgulho, a azaleia caprichou como nunca.
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