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segunda-feira, 19 de setembro de 2011
19 de setembro de 2011 | N° 16830
PAULO SANT’ANA
Ajuste de contas
Chega uma hora em que a gente tem de prestar contas à vida. Ou ajustar contas com a vida.
Esses dias, pensei que levei vantagem com a vida. Porque tudo é efêmero na vida, mas não tanto, concluí. Afinal, já consegui viver mais anos do que meu pai. Meu irmão Luiz Cirilo, que tinha dois anos menos do que eu, viveu 20 anos menos do que eu, coitadinho.
Pensando bem, minha vida não teve nada de efêmera: há insetos, como as moscas, cuja vida dura cerca de uma semana.
E, afinal, eu durei mais do que todas as flores: que devem durar poucos meses, enquanto eu já duro mais de 72 anos.
Só durar mais que uma flor já é um privilégio.
De que me queixo, então? Durei mais do que todos os peixes. Talvez só durem mais do que eu as tartarugas, mas andam tão devagar, que a vida delas não tem a intensidade da minha.
Ocorre-me, no entanto, agora, que Castro Alves e Noel Rosa duraram menos de 30 anos cada um. Estes dois, pelas obras, devem ter vivido mais intensamente do que eu.
Outra coisa, outro ângulo: às vezes, me sinto mais feliz do que quando tive 30 anos de idade. Não porque materialmente eu tenha mais hoje do que quando tinha 30 anos. Mas com 30 anos eu era muito menos inteligente e racional do que hoje, não me resta dúvida alguma sobre isso.
Além disso, meu acervo intelectivo e emocional é hoje muito maior do que quando eu tinha 30 anos. Eu penso melhor e mais elasticamente do que na juventude. Há coisas que compreendo agora que não entendia antes.
E sinto hoje mais intensamente as alegrias e as tristezas, levo muito mais bofetadas do que desferia, mas em compensação dou menos bofetadas do que dava.
Apesar de hoje ser alvo da velhice, entendo melhor a sorte humana do que entendia naquele tempo. Sou, pois, uma pessoa mais inteira do que quando jovem, quando a vida me era apetecida, mas eu não sabia direito o que fazer com ela.
Hoje, embora me tenham cessado os apetites, sou mais conformado com a minha condição de humano.
Por assim dizer, o Paulo Sant’Ana quando tinha 30 anos só levou uma vantagem sobre o Paulo Sant’Ana de 72 anos: podia prometer casamento. Vocês não adivinham, leitores e leitoras, a vantagem que o homem leva quando pode prometer casamento às mulheres.
O homem que tem aptidão para casar-se é um afortunado. Não estou me referindo ao homem que se casa, e sim ao que em meio aos romances promete casamento a torto e a direito.
E, ao homem a quem não é mais permitido o casamento, nada mais é prometido. Quem não está apto a se casar de novo tem de ver declarada extinta a sua existência.
Que tristeza essa goleada de 4 a 0 que o Grêmio sofreu do Vasco.
Chegaram a ter os gremistas o sonho de ingressar na zona da Libertadores. O melhor é termos a humildade de considerar que nossa meta é apenas não sermos rebaixados.
Não pelas consequências na tabela da goleada de anteontem, mas pelo que ela pode dizer a nós sobre as nossas reais possibilidades.
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