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domingo, 11 de setembro de 2011
Editorial Folha
Mitos do 11/9
Há exagero na versão de que os ataques de dez anos atrás mudaram curso da história, em que EUA e nações árabes passam a ter peso declinante
Dez anos depois dos brutais atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, a noção de que o episódio mudou o curso da história parece exagerada.
Pelo uso de aviões sequestrados como arma, pelo simbolismo dos alvos atingidos e pelo número de assassinados -quase 3.000-, aquele dia se destaca na crônica de horrores do terrorismo. Mas não se pode sustentar que tenha acarretado mudanças duradouras no cenário mundial.
A política externa americana, na década passada, decerto mudou. Subordinou-se quase por completo ao propósito de combater a rede de extremistas islâmicos responsável pelo ataque.
Deflagrada um mês depois, a guerra do Afeganistão foi reação legítima contra o Estado que dava respaldo logístico à rede Al Qaeda. A derrubada do Taleban, que governava o país centro-asiático, contribuiu de modo decisivo para debilitar aquele grupo terrorista.
O governo de George W. Bush desbaratou, porém, o amplo apoio internacional colhido nessa primeira fase ao iniciar, em 2003, uma guerra injustificável contra o Iraque. Esse país não detinha armas de destruição em massa nem seu ditador mantinha vínculos com a rede terrorista, como alegou então, por má-fé e paranoia, o governo americano.
Num desdobramento irônico dos fatos, o Iraque é hoje uma democracia dotada de relativa estabilidade, enquanto o Afeganistão se acha entregue a um governo corrupto assediado por endêmica guerra civil.
De toda forma, a Al Qaeda foi desmantelada. Produziu até agora apenas dois outros atentados de vulto (Madri, em março de 2004; Londres, em julho de 2005), nenhum deles nos Estados Unidos. A morte do dirigente Osama bin Laden, na incursão de um comando americano contra seu refúgio no Paquistão, em maio, aparentemente encerra um ciclo.
É cedo para prever os rumos da atual onda de revoltas populares contra ditaduras no mundo árabe, sendo plausível que o desenlace varie de um país a outro. Mas o sentido implícito parece democratizante e alheio à mitologia criada pelo extremismo islâmico.
O próprio desenvolvimento capitalista, que dissemina informação e cria expectativas de consumo material e participação política, age como um ácido a dissolver as incrustações de fundo agrário-religioso nessas sociedades. O tempo e o progresso são os maiores adversários do fundamentalismo islâmico.
De resto, a evolução histórica delineada na última década sugere que tanto os Estados Unidos como os países árabes terão peso geopolítico declinante nos tempos que estão por vir.
O ascenso da China e demais nações emergentes surge como contraponto à paulatina perda de influência do mundo desenvolvido. E embora o petróleo não venha a ser substituído tão cedo, a exploração de novos lençóis e a diversificação da matriz energética mundial tendem a esvaziar a importância dos exportadores tradicionais do produto.
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