segunda-feira, 12 de setembro de 2011



12 de setembro de 2011 | N° 16823
ARTIGO | PAULO BACKES é fotógrafo e ambientalista


QUEIMANDO VERDINHAS

Há poucos meses, encontrei, em um contêiner perto da minha casa, restos de um parquê que sobrou de uma obra de algum vizinho. Moro no centro histórico de Porto Alegre, onde, com frequência, alguém está reformando sua casa ou seu apartamento.

Centenas ou milhares de taquinhos de 20 centímetros jogados fora. Madeira inteira, bem conservada, cumprindo sua função por mais de 70 anos. Destino? Alguma central de restos de obra da prefeitura.

Recolhi algumas caixas e queimei alguns na salamandra de casa até me dar conta. Então, resolvi raspar e lixar a madeira para saber qual era a sua espécie. Resultado: US$ 15 mil jogados fora! Seis a 7 metros cúbicos de uma madeira valiosa e rara, o pau-marfim. O valor médio dessa espécie beneficiada é de aproximadamente US$ 2,5 mil o metro cúbico.

O pau-marfim (Balfourodendrum riedelianum) encontra-se na lista de espécies ameaçadas de extinção no Estado do Paraná. Em São Paulo, estão sendo realizados trabalhos de conservação genética em populações in situ e ex situ nas reservas florestais, a fim de preservar a espécie.

Me arrependo pelas que queimei, pois, a princípio, estava reaproveitando um resíduo para me aquecer, e de graça.

Estamos jogando fora o que a natureza nos forneceu nos séculos passados e nos custou a destruição de grande parte de nossas paisagens e florestas.

Por isso, nossa civilização extingue espécies. Uma mesma moradia consome várias vezes o mesmo recurso. Por quê? Porque não enxerga o que está botando fora.

Por desconhecimento ou capricho de algum modismo que determinou que piso de parquê com pau-marfim é out! Provavelmente, no lugar dele, entrou algum porcelanato ou piso laminado certificado. Mais gasto de energia, recursos naturais ou destruição de florestas.

Nossa civilização extingue porque não vê que os tacos estavam inteiros, sem cupim ou fungos, apenas velhos e sujos, precisando somente de uma lixa. Vamos para a Europa admirar antigas construções e pisos seculares, mas jogamos fora as nossas relíquias.

Fazemos como o magnata arrogante ao acender um charuto com uma nota de US$ 100: estamos queimando nossas verdinhas há séculos.

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