sábado, 10 de setembro de 2011



10 de setembro de 2011 | N° 16821
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Bento Gonçalves, eis o homem

As nações não vivem sem heróis. Se não os têm, inventam-nos, criam mitos e lendas. É fato muito conhecido que o genocídio dos indígenas nas Américas gerou um complexo de culpa que perpassa gerações. Nos EUA, no México, no Uruguai, na Argentina e no Brasil, são muitos os pretensos heróis indígenas, o mais das vezes hipertrofiados pela mitologia gerada pelo complexo de culpa. É como se a gente dissesse:

“Vejam, não somos tão genocidas assim, porque cultuamos esse índio como herói...”. Camponeses, e até bandidos, às vezes são transformados em heróis populares dos quais a mídia se nutre com facilidade.

No Rio Grande do Sul, por fatalidade histórica e geográfica, não precisamos inventar heróis. Dois séculos de guerras quase ininterruptas contra os platinos e contra o próprio Brasil nos deram uma galeria aureolada de heróis e de heroínas que não é fácil encontrar similar no mundo fora daqui.

Da legião de heróis que brotam das páginas da nossa História, para mim o maior de todos é Bento Gonçalves da Silva, um cavaleiro sans peur et sans réproche. E isso não foi dito por historiadores ufanistas ou por patrão de CTG, mas pela gente de sua época. O que dele disseram, por exemplo, cronistas da época, como Manuel da Silva Caldeira, basta para colocá-lo num pedestal muito alto.

Bento, filho de militar e estancieiro, toda sua vida foi isto: militar e estancieiro. Por conta própria, leu tudo o que havia disponível na época sobre História, mas não era um intelectual. Forte, atlético, deixou fama de grande cavaleiro e hábil espadachim, como comprovou quando se bateu em duelo com o antigo aliado e parente Onofre Pires. Bento Gonçalves da Silva também era um hábil nadador, como comprovou no episódio da sua fuga do Forte do Mar, na Bahia.

Era sisudo, pouco dado a explosões de alegria. Monarquista, aderiu ao fato consumado da proclamação da República Rio-grandense por lealdade a Antonio de Souza Neto, mas nunca foi republicano de fato. Após a paz de Ponche Verde, quando Dom Pedro II visitou Porto Alegre, esteve com o Imperador em Palácio e beijou-lhe a mão, como mandava o protocolo.

Bento Gonçalves da Silva era maçom com o grau mais elevado da Ordem e isso explica muito da sua vida e da sua atuação. Valente mas prudente, magnânimo, eu o considero o maior gaúcho de todos os tempos.

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