quinta-feira, 15 de setembro de 2011



15 de setembro de 2011 | N° 16826
ARTIGOS - Aloyzio Achutti*


Um milhão de corações

Neste mês de setembro, ocorrem três eventos com objetivos comuns: nos Estados Unidos, foi lançada uma campanha preventiva nacional com o título deste artigo, na tentativa de obter melhor controle, evitando mais 1 milhão de doenças do coração nos próximos cinco anos.

Aqui em Porto Alegre, realiza-se o Congresso Brasileiro de Cardiologia, reunindo profissionais com a mesma preocupação. Na sede da Organização Mundial da Saúde, em Nova York, se realiza uma reunião de alto nível, com chefes de Estado para discutir a inclusão do grupo das doen-ças crônicas e não transmissíveis (dentre as quais se situam as do coração) entre as prioridades do milênio.

Aprendemos, embora nem sempre aplicando na prática, como controlar doenças infecciosas e transmissíveis. Aprendemos a lavar as mãos com frequência, particularmente após evacuar e antes de tomar alimentos.

Aprendemos a fornecer água não contaminada e tratar nosso esgoto. Descobrimos o valor da conservação, embalagem e distribuição de alimentos e como fazê-las eficientemente. Valorizamos o sexo saudável e a necessidade de isolamento dos comunicantes. Montamos sistemas de vigilância epidemiológica para controle de epidemias. Somos capazes de mobilizar os demais setores da sociedade para controlar doenças transmissíveis.

Entretanto, recém começamos a controlar o abuso ativo e passivo do tabaco, a discutir políticas para permitir uma produção, oferta e seleção mais saudável de alimentos e a dar importância à atividade física.

Já dispomos de muitos recursos da indústria da doença para tratar males já estabelecidos ou avançados, mas falta muito caminho a andar na prevenção, particularmente naquilo que não depende de uma simples escolha pessoal, mas de políticas públicas que facilitem uma vida mais saudável e que permitam o desenvolvimento de uma cultura na qual esses princípios estejam incorporados.

Nem os americanos, nem nós conseguimos ainda valorizar o papel do estresse e da desigualdade social e do descontrole social das causas nocivas na origem das doenças do coração, de todas as doenças crônicas e de seus fatores de risco.

Iludimo-nos com a ideia de que é de dentro do setor saúde que se consegue prevenir essas doenças. As causas das causas são transetoriais e se situam na indústria no comércio, na agricultura, na economia, no transporte, na educação, afinal, em todos os setores nos quais nossa sociedade se organiza, e consegue ocultar o que se torna evidente no setor saúde, impotente por não alcançar as raízes dos problemas com os quais tem que lidar.

*Médico

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