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segunda-feira, 2 de maio de 2011
02 de maio de 2011 | N° 16688
ARTIGOS - por Cláudio Brito*
Bipolaridade e ganância
Nunca se viu algo parecido. Não se poderia supor que alguém alegasse sofrer de bipolaridade para defender-se da acusação de ter cometido crime de corrupção.
Os transtornos bipolares caracterizam-se por alterações de humor, variações de comportamento que oscilam entre a euforia e a depressão, há sintomas como bom humor intenso e incomum, energia excessiva, irritabilidade, sensação de agitação, fácil distração e ideia exagerada das capacidades, entre outros.
Nada que possa bloquear o entendimento a respeito do que é certo ou errado. Um bipolar talvez cometa uma agressão física contra alguém em razão de seu estado de euforia exagerada. Na depressão, pode até investir contra a própria integridade, tentando o suicídio.
A bipolaridade, no entanto, não explica nem justifica um cheque sem fundos, uma fraude qualquer. Quando, por ser bipolar, um servidor público aceitaria um punhado de dinheiro para deixar de praticar algum ato de sua profissão? Quem pode aceitar que, pela doença mental, um agente do Estado, mediante propina, acabe livrando a pele de um corrupto qualquer? Não seria pela bipolaridade que alguém se deixaria corromper.
O Código Penal isenta de pena o criminoso que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, na época do crime, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato. Chocante saber que uma promotora de Justiça queira safar-se da condição de corrupta afetando ser portadora de bipolaridade.
Um procurador e uma promotora estão na mesma barca, mergulhados até o pescoço no lamaçal que tomou conta do Distrito Federal. A doutora simula chiliques e ensaiou com um psiquiatra a encenação que faria para comover quem vai julgar seus crimes. Ela e o médico precisam responder por isso também.
Ridícula a lorota da bipolaridade. É de ganância que temos que falar. Olho grande, cupidez, sem-vergonhice mesmo. Fazer-se de louca para passar bem é expediente muito surrado. Como disse o Antônio Macedo na Gaúcha: “Dá uma nota de cem dólares para ela e vê se ela rasga”. Claro que não. E também não aceitaria beber um copo de água fervente. Vê se o dinheiro sujo recebido não ganhou o rumo da lavanderia. Infelizmente, fomos todos vítimas de uma traição.
A sociedade inteira foi vítima da quadrilha que tomou conta das estruturas do governo de Brasília. Quem deveria investigar e denunciar as falcatruas envolveu-se com elas, sujou as mãos, rasgou a moral, afrontou a cidadania, traiu. Não por qualquer transtorno mental, mas por gula e arrogância. Sim, arrogância. Como definir a atitude de quem se imagina acima do bem e do mal, dona de tudo, senhora da impunidade?
A promotora nada tem de doente. Nem de esperta.
Esperteza não é corromper-se. Esperteza é fazer o que é certo.
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