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sábado, 5 de setembro de 2009
06 de setembro de 2009 | N° 16086 -
PAULO SANT’ANA
Cantador e violeiro
O viajante chegou à uma hora da madrugada à cidadezinha do Interior, que naquele instante estava deserta. E, estafado, bateu na porta da primeira casa que viu.
Atendeu-o, depois de algum tempo, uma mulher jovem e bonita.
O viajante disse à jovem senhora que precisava de um lugar onde pudesse dormir somente por aquela noite.
Falou também que era cantador e violeiro, a viola que trazia às costas denotava isso. E iria fazer uma temporada de uma semana na cidadezinha, mas precisava como nunca que alguém lhe desse uma pousada só por aquela noite.
A jovem senhora explicou-lhe, ainda na porta, que não podia dar-lhe um quarto para dormir porque ficara viúva fazia 60 dias. Era, portanto, uma viúva recente e fresca, se alguém na cidadezinha visse que um homem dormira em sua casa, sua reputação estaria totalmente destroçada, de maneira nenhuma a cidade em que ela nascera e tinha sido criada poderia encará-la por essa mácula.
O cantador e violeiro, com a viola nas costas, implorou para que a jovem viúva lhe arranjasse um lugar pra dormir em sua casa.
Quase se ajoelhou.
Até que a mulher, comovida, fez o homem entrar e disse que ele fosse dormir num quarto dos fundos da casa.
Levou-o até lá e disse que dali a minutos viria buscá-lo para lhe oferecer alguma alimentação na sua sala.
De fato, a mulher foi buscar o viajante no quarto dos fundos, levou-o até a parte da frente da casa e ofereceu-lhe uma sopa e pão quentes, que era do que àquela hora dispunha.
O homem comeu o pão e bebeu a sopa e em agradecimento se dispôs a ir até o quarto dos fundos buscar a viola e dedicar cinco músicas que cantou na mesa da sopa para a jovem, bela e recente viúva.
Cantadas as músicas, ouvidas pela viúva embevecida, o viajante se retirou respeitosamente para o quarto dos fundos que lhe destinara a dona da casa. Nada mais aconteceu entre eles.
No dia seguinte, quando ia já embora agradecido, o viajante viu que no quintal da casa da viúva havia um galinheiro. E, no galinheiro, estranhamente, existiam 10 galos e uma só galinha.
Antes de despedir-se da viúva, no portão da casa, já com a bagagem pronta, o viajante falou para a senhora, com todo jeito, que ela criava de modo errado as galinhas.
Que o certo era criar 10 galinhas e um só galo e não o inverso como acontecia no seu galinheiro.
A senhora olhou no fundo dos olhos do viajante e falou suspirosa:
– O senhor não se preocupe, destes 10 galos que o senhor viu no meu galinheiro, um só deles é galo legítimo e encara a galinha, os outros nove são cantadores e violeiros.
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