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domingo, 2 de agosto de 2009
DANUZA LEÃO
Tem solução? Talvez
Elas sabem que somos todos fundamentalmente sós, embora procuremos negar essa realidade
O UTRO DIA combinei de jantar com uns amigos; nos encontraríamos diretamente no restaurante às 10h. Mas sabe aquele dia em que você não está muito bem? Para dizer a verdade, está mal?
Quando se está assim a pele fica sem brilho, o cabelo fica ruim, mas você pensa: chego lá, tomo uma bebida, e quem sabe, tudo pode melhorar. Peguei um táxi, mas o trânsito estava ruim, tudo parado.
Olhei para o lado direito, uma calçada vazia; à esquerda, um ônibus, também parado; o motorista, jovem, olhou umas duas vezes para o relógio. Alguém devia estar esperando por ele, pensei.
E pensei também no meu quase tédio, indo para um restaurante caro, cuja conta seria provavelmente mais alta do que seu salário de um mês e onde ele jamais poria os pés.
Fiquei pior.
Como seria a vida daquele motorista? Se às 10h da noite ele ainda estava trabalhando, devia começar lá pelas 2h da tarde -e provavelmente fazia um biscate na parte da manhã.
Devia morar longe, tendo que largar o ônibus e pegar uma condução para chegar em casa, o que aconteceria lá pelas 11h. A essa hora a mulher talvez já estivesse dormindo, e ele ia ter que fazer um prato e botar para esquentar antes de cair na cama, morto de cansaço e sem ter nem com quem conversar.
O que será que aquele motorista pensava da vida? Que era assim mesmo que tinha que ser? Ou teria planos, planos de poder ir a um restaurante de vez em quando, tomar uma cerveja, voltar para casa, abraçar a mulher com muito amor, sabendo que no dia seguinte ia poder acordar mais tarde, botar uma bermuda e ficar em casa de bobeira, vendo qualquer coisa pela televisão?
De toda maneira, ele certamente estava melhor que eu. O trânsito não andava, e eu só prestava atenção no motorista. Ele estava tranquilo, cumprindo sua obrigação, sem nenhum sinal de impaciência; apenas vivendo sua realidade, sem pensar em muita coisa a não ser no trânsito, que não era para estar assim parado àquela hora.
Teria acontecido algum acidente? Não, era só porque tinha começado a chover. Os carros começaram finalmente a andar, e cheguei para o meu encontro.
O bar era moderno, aliás moderníssimo, os sofás, de couro, e a música que tocava, absolutamente insuportável. Tomei o primeiro drinque rápido, o segundo mais devagar, mas não consegui entrar no clima.
Num espaço muito curto de tempo tinha vivido em dois mundos, não sabia qual era o real, e sentia que não pertencia a nenhum dos dois.
Ao do motorista, certamente que não; ao do bar onde estava, tão sofisticado e tão chique, também não. Então não pertencia a mundo nenhum? E alguém pertence a algum?
Algumas pessoas são assim; em certos momentos têm a ilusão de fazer parte de um grupo, seja ele político, intelectual, boêmio, de meditação, ou a qualquer outro, mas nunca conseguem.
Elas sabem que somos todos fundamentalmente sós, embora procuremos durante todo o espaço de uma vida negar essa realidade, que nem chega a ser triste, é apenas a realidade. Quanto esforço elas fazem -fizeram- para se encaixar em algum desses universos sem nunca conseguir; e será que alguém consegue? De verdade?
As pessoas às vezes se sentem irremediavelmente sós; mas basta um dia encontrar um novo amigo, um novo amor, para o mundo ficar mais bonito e a vida voltar a valer a pena.
É isso que se procura e às vezes encontra; e quando acontece, é bom demais.
danuza.leao@uol.com.br
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