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quinta-feira, 6 de agosto de 2009
CLÓVIS ROSSI
Sarney, empregue minha neta
SÃO PAULO - Confesso que fiquei até comovido com o discurso do senador José Sarney em que se defendeu do que chamou de campanha contra ele.
Comovido como avô, quando Sarney disse que qualquer pessoa nessa inefável condição atenderia a um pedido da neta para arrumar emprego, desde que legal, para o namorado.
Eu pediria, sim, emprego para minhas netas/namorados se precisarem quando chegarem à idade adequada e se estiver vivo até lá.
Mas a minha emoção se desfez quando me lembrei de que Sarney fez empregar o namorado da neta no Senado, ou seja, atendeu ao pedido da moça com o meu bolso, o seu bolso, o nosso bolso. Com um avô assim, quem precisa de padrasto?
Essa é a grande diferença entre os políticos, quase todos, e os mortais comuns: o clã Sarney tem muitíssimos negócios nos quais seu coração de avô carinhoso poderia facilmente encontrar lugar para o namorado da neta, que é físico de formação, especialidade que não parece essencial no Senado.
Mas nem lhe passa pela cabeça pagar salário para o rapaz com recursos próprios.
Recorre rapidinho aos cofres públicos, até porque viveu deles a vida inteira, o que leva a naturais confusões entre público e privado. Não só recorre, como acha natural, legal, bacana, atender a neta com o dinheiro do público.
Jamais lhe passa pela cabeça que pode ser de fato legal, mas é indecoroso, e as representações apresentadas contra Sarney são todas por falta de decoro.
Mas fique tranquilo, companheiro vovô: seus colegas do Senado, na grande maioria, também não sabem fazer a distinção entre público e privado, entre legal e indecoroso.
Por falar nisso, "vô" Sarney, minha neta Natália está aprendendo a tocar violão. Não é mais útil no Senado do que um físico?
crossi@uol.com.br
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