Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
domingo, 9 de agosto de 2009
09 de agosto de 2009
N° 16057 - DAVID COIMBRA
Ele arrebentou o nervinho
O Edu Brittes não era alto. Era retaco, do tipo forçudo. Não tinha uma personalidade violenta. Ao contrário: nunca o vi perder a calma, nem quando brigava a soco com alguém. É que no IAPI, naquele tempo, a gente vivia brigando.
A discussão mais suave acabava com dois ou três ou vários rolando pelo chão, pataço e manotaço no meio da polvadeira, só que sem maiores consequências do que um olho deste tamanho. Então, o Edu volta e meia brigava, mas jamais poder-se-ia dizer que fosse violento. Tinha senso de humor, o Edu, isso sim.
Uma vez, fui à casa dele para jogar botão e, antes de bater na porta, ouvi gritos que vinham lá de dentro:
– Ele arrebentou o nervinho! Ele arrebentou o nervinho! Não era a voz do Edu. Era uma voz esganiçada. De dor, supus. Voz de alguém que eu conhecia. Que repetia sem cessar:
– Ele arrebentou o nervinho! Ele arrebentou o nervinho! Colei o ouvido na porta. Prestei atenção. Só ouvia aquilo:
– Ele arrebentou o nervinho! Ele arrebentou o nervinho! Premi o botão da campainha. Esperei. Enquanto esperava, ouvia, cada vez mais alto:
– Ele arrebentou o nervinho! Ele arrebentou o nervinho!
A porta se abriu. Atrás dela estava o Edu, rindo muito. Do outro lado, na sala, o nosso amigo Nique, saltitando sem parar, as duas mãos mergulhadas dentro do calção, berrando:
– Ele arrebentou o nervinho! Ele arrebentou o nervinho!
– Que que é isso? – perguntei ao Edu.
Enxugando as lágrimas que lhe corriam rosto abaixo de tanto gargalhar, ele contou: estavam jogando botão, ele e o Nique, e começaram a discutir por algum motivo. No meio da discussão, o Nique, querendo demonstrar sua macheza, fez algo que alguns faziam usualmente, na época: abaixou o calção e, empunhando o próprio membro, sacudiu-o na frente do Edu, a rosnar:
– Olha aqui pra ti, ó! Ao que o Edu, ato contínuo, estendeu a mão e... puxou o pequeno tico do Nique com toda a força. Donde, o Nique urrava:
– Ele arrebentou o nervinho! Ele arrebentou o nervinho!
Depois passou. Imagino que nenhum nervinho tenha sido arrebentado pelo puxão do Edu, mas o Nique nunca mais se expôs daquela forma.
O Edu era assim, brincalhão, não violento. Mas imprimia força em todos os jogos que jogava. Na bolinha de gude, o inhaque do Edu era lendário. Quebrava a joga de todo mundo. Quando fazia pontaria na joga da gente, a gente gritava:
– Nããããããã!
Eu tinha uma joga linda linda, uma águida, toda rajadinha de azul e branco do tamanho de uma bala gasosa. Pois um dia o Edu acertou a minha joga com a joga dele e a minha joga, atingida em cheio, fez cr-r-r, rachou, e depois CRAC, quebrou ao meio. Maldito inhaque de aço do Edu.
No pingue-pongue, a mesma coisa. O Edu dava um saque que, tzin!, a bolinha ricocheteava feito uma bala na mesa e se chocava com o teto da sala, era impossível de rebatê-la.
E, no futebol, não é que fosse craque; não era; mas tinha um chute que era o seguinte: o chute do Edu fazia o travessão de madeira do Alim Pedro tremer, ao se chocar com ele.
Passando do grande círculo, se o Edu tivesse espaço, mandava um bazucaço de direita no gol, e a bola ia com tal precisão e com tal violência, ia tão seca e reta e direta, que não havia jeito: de duas pancadas, uma era gol.
Por isso digo: o Edu ia para a minha seleção.
Escrevo sobre seleções porque, já disse, fico todo animado para escalar seleções, e agora tive de montar uma do Grêmio de todos os tempos e outra do Inter, na promoção do Carrefour. Chamei o Fraga, o genial ilustrador da coluna, e perguntei-lhe:
– Fraga, como seria a tua seleção?
Ele: – Para jogar na minha seleção, tem que ter pernas longas. Fiquei ainda mais animado:
– Pernas longas, sim, Fraga! Nós gostamos de pernas longas! – Loira de cabelos compridos e cacheados – prosseguiu o Fraga.
E eu, atirando longe o expresso que estava bebericando: – Sim, sim! Loira de cabelos compridos e cacheados, é disso que precisamos!
– E nádegas arredondadas como uma bola de futebol número cinco! – Oié! Nádegas arredondadas como uma bola de futebol número cinco! Sim, Fraga, nós gostamos disso!
– E talvez um piercing no umbigo! – Aaaaah! Um piercing no umbigo, é o que nós queremos, Fraga! Sim, senhor! Foi assim que o Fraga decidiu ilustrar essa crônica. Cada um com sua seleção.
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