quinta-feira, 3 de março de 2022


03 DE MARÇO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

O GARGALO DOS FERTILIZANTES

A crise no Leste Europeu fez reaparecer com força a discussão sobre a necessidade de o Brasil, uma das maiores potências agrícolas mundiais, diminuir a dependência de fertilizantes importados. Em média, o país tem buscado no Exterior 80% dos adubos que utiliza em suas lavouras. Entre os principais fornecedores estão Rússia e Belarus, que passaram a sofrer com sanções e dificuldades logísticas que barram embarques. Mas mesmo antes da invasão da Ucrânia, Moscou já tinha comunicado a decisão de suspender temporariamente as vendas de nitrato de amônio, um dos principais itens da sua pauta de fertilizantes. Belarus, por sua vez, também foi atingida por medidas restritivas de nações do Ocidente por ser aliada da Rússia no conflito.

É esperado para os próximos dias que o governo federal apresente o chamado Plano Nacional de Fertilizantes. Era para ser conhecido no final do ano passado, mas a divulgação foi adiada. É um tema de grande interesse do Rio Grande do Sul, um dos principais consumidores de adubos do Brasil por ser o terceiro maior produtor de grãos do país. E ganha importância não apenas pela escassez causada pela guerra, mas pela disparada dos preços nos últimos meses, pressionando as margens no campo.

São aguardados, portanto, os detalhes da proposta. Mas sabe-se que só será possível ter resultados no médio e longo prazos devido à complexidade que envolve todo o processo, desde a identificação de jazidas, passando pelos licenciamentos, até a construção efetiva dos projetos. Um dos objetivos conhecidos, por exemplo, é diminuir a dependência da importação para 60% em um intervalo de 30 anos. Mesmo parecendo uma meta modesta, pode ser a factível. Planejar e executar o programado não é exatamente o ponto forte do Brasil. 

Entre 2008 e 2009, o mundo viveu uma crise no fornecimento, com escalada das cotações, e o país esboçou a intenção de ampliar a oferta interna para mitigar futuros choques globais, mas os planos pouco andaram. Os principais produtos empregados na agricultura são à base de nitrogênio, fósforo e potássio. No curto prazo, não há saída para o gargalo a não ser procurar novos países para assegurar o suprimento para a agricultura brasileira.

Pelo que se conhece do planejamento a ser detalhado nos próximos dias, as iniciativas incluem incentivos tributários, desburocratização, estímulo a novas tecnologias para substituir os compostos tradicionais e uma campanha de orientação para otimização do uso e redução de desperdícios. Pesquisas conduzidas pela Embrapa indicam potencial significativo da utilização de fertilizantes produzidos a partir de resíduos da cadeia do próprio agronegócio. Há, claro, a intenção de mapear áreas para ampliar a exploração mineral. Mas deve-se ter extrema cautela com propostas para mineração em regiões sensíveis, como a Amazônia e terras indígenas.

De 2020 para 2021, as importações brasileiras subiram 21% em volume, para 41,5 milhões de toneladas. Em valores, no entanto, o aumento foi de quase 90%, chegando a US$ 15 bilhões, de acordo com dados do governo federal. Com a crise bélica em curso, os preços seguem em disparada. Há razões suficientes para o Brasil se dedicar a alternativas, como aumentar a produção local. O plano, no entanto, deve ser consistente, praticável e executado à risca, para que não ocorra o mesmo que se verifica nos episódios de estiagem que acometem o Rio Grande do Sul periodicamente: bastam uma ou duas safras com chuvas abundantes após uma seca para o assunto da irrigação cair no esquecimento.

OPINIÃO DA RBS

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