quinta-feira, 31 de março de 2022


31 DE MARÇO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

ALENTO NO EMPREGO

Se a população atravessa dias duros, especialmente devido à inflação acima de 10% em 12 meses, merecem também ser devidamente registradas as notícias que significam perspectivas melhores para um número maior de brasileiros. É o caso do mercado de trabalho, com recuperação constante nos últimos meses, no Estado e no país. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou na terça-feira que, em nível nacional, foram criadas em fevereiro 328,5 mil vagas com carteira assinada, número acima do esperado por especialistas. No Rio Grande do Sul, foram 25,9 mil postos formais de saldo positivo entre contratações e demissões.

É alentador o fato de o número vir acima do estimado. Mesmo que a geração de vagas desacelere em relação a 2021 - algo natural por ter sido o período marcado pela retomada de uma série de atividades após o primeiro ano da pandemia -, o resultado indica alguma resiliência da economia, em meio a uma conjuntura desafiadora. No caso do Estado, deve especialmente ser celebrado o desempenho da indústria, responsável por quase metade dos empregos com carteira assinada criados no mês passado. Mesmo que setores, como o de tabaco, sejam influenciados por fatores sazonais, há outros ramos com performance animadora, a exemplo do calçadista.

A própria Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) revelou, em sondagem, que as fábricas tendem a demandar mais mão de obra nos próximos meses. Isso apesar das incertezas relacionadas à guerra no Leste Europeu, às eleições no Brasil e às dificuldades nas cadeias de fornecimento de insumos e matérias-primas. É preciso não perder de vista que o ano tende a ser particularmente difícil para a economia gaúcha devido à quebra da safra de grãos causada pela estiagem. Ter perspectivas de aumento de contratação no segmento manufatureiro, portanto, é reconfortante em um contexto de alta dos preços e taxas de desemprego ainda em patamares historicamente elevados. Maior ocupação significa mais renda circulando, dando fôlego para outros setores, como serviços e comércio, que agora conseguem operar de maneira mais segura graças ao avanço da vacinação, com o recuo dos números da covid-19.

No ano, o Rio Grande do Sul acumula saldo positivo de 48,2 mil vagas. Em 12 meses, de 130,5 mil. No país, foram abertas 478,8 mil postos formais no primeiro bimestre. A mais recente pesquisa sobre desemprego do IBGE apurou ainda uma taxa de 11,2% no trimestre encerrado em janeiro. Sim, é um patamar alto, mas o movimento de queda, mesmo lento, é constante nos últimos meses. Esse também é o menor percentual para o período desde 2016. O levantamento do IBGE inclui informais e trabalhadores por conta própria formalizados.

Especialistas em mercado de trabalho alertam que o resultado de fevereiro pode ter sido influenciado por fatores não recorrentes como a contratação de milhares de temporários pelo próprio IBGE para a realização do Censo. Temporários, registre-se, passaram a ser incluídos no Caged a partir da mudança de metodologia, em 2020, o que vem turbinando os números apurados pelo governo federal. A admissão de professores, devido à volta às aulas, também teria se refletido nos dados do mês anterior.

Há cautela e projeções de que, diante das perspectivas pouco animadoras para a economia em 2022, as admissões tendam a desacelerar. No geral, a renda também vem em queda, o que é mostrado pelo IBGE e pelo levantamento dos salários de admissão do Caged. É inequívoco, portanto, que não há razão para euforia. Mas da mesma forma, é justo celebrar que mais brasileiros estão encontrando ocupação para fazer frente aos principais compromissos e primeiras necessidades cotidianas.

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