28 DE MARÇO DE 2022
EM DIA
VIDA SEM ESCOLHAS
A monotonia cultural leva nações inteiras a uma zona de conforto extremamente perigosa. Por óbvio, isto não tem nada a ver com a dedicação diária dos cidadãos que constroem suas vidas com muito esforço. Isto não tem relação, também, com perdas e ganhos que todos passamos nas nossas jornadas. O marasmo cultural é mais profundo. Afeta nosso pensar e agir e, por incrível que pareça, o nosso limiar de tolerância e a forma de enxergarmos os outros.
Chamou a atenção o apoio dos brasileiros à cassação de um meio de comunicação nos últimos dias. Censura apoiada pelas pessoas é a censura perene, revestida de legalidade. Há países, com líderes ditadores, que escolhem os meios de comunicação permitidos ao seu povo e outros que liberam e destinam aos próprios cidadãos o direito da análise e da escolha. Ficar com a primeira opção é permitir o fim da sua liberdade, é permitir que, mais uma vez, o ente público decida sobre a sua vida.
Traçando um paralelo, muito mais drástico e absurdo, tem-se a guerra massacrante na Ucrânia. Do conforto do sofá, com as suas escolhas garantidas, é fácil ser a favor da rendição ou entrega do território ucraniano. São os representantes de nações monótonas, acostumados com direitos fundamentais, sem valorizá-los. Por lá, os ucranianos lutam por liberdade, porque estão na real iminência de perdê-la. Lutam por um objetivo nobre e inegociável. Doam suas vidas por algo maior, por algo real, que estão vendo passar por entre os seus dedos.
Um menino de sete anos, perguntado na fronteira se sentia falta da sua casa, não hesitou em responder: "Não sinto falta da minha casa, sinto falta do meu país". Incrivelmente doloroso! Portanto, entregar-se não significa deixar um pedaço de terra para trás, significa deixar uma história e uma chance de futuro para as gerações que estão por vir. Triste, muito triste a situação deste povo, que aprendeu a "entregar" as suas vidas por algo relevante e incompreensível para outros acostumados com o privilégio de escolher.
Para os ucranianos não há escolha e já passaram por isto em 2014, quando lutaram sem armas contra a polícia armada. Em nome de quê? Liberdade! Não sejamos cegos e indiferentes. Vida sem escolhas é a pior forma de viver.
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