sábado, 26 de março de 2022


26 DE MARÇO DE 2022
+ ECONOMIA

Dólar cai, mas juro vai subir mais Terreno na lua?

Nesta semana, a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) anunciou que pretende entrar no metaverso. Seria a primeira entidade a ingressar no mundo virtual, e ainda teria "sede própria". Em todo o mundo, já existem "imobiliárias" especializadas em vender terrenos digitais. Mas essa será uma nova versão dos "terrenos na lua", golpe que ganhou popularidade nos anos 1960, depois da primeira alunissagem da história, em 20 de julho de 1969? No caso da Fiergs, a proposta faz sentido: a entidade pretende usar o metaverso como canal de comunicação para temas institucionais e para promover marcas e produtos das indústrias gaúchas.

Existe um "mercado imobiliário" vendendo terrenos no metaverso, com "zonas nobres" - onde há maior quantidade de usuários ativos - e periféricas. A revista Fortune projetou que pode envolver "vários trilhões de dólares". Há relatos de "compra de terreno" por US$ 2,43 milhões.

Depois que o IPCA-15 ficou em 0,95% em março, "acima das expectativas mais pessimistas", como definiu um analista, o dólar acentuou a queda no mercado de câmbio no Brasil. É bom lembrar que o IPCA-15 é conhecido como "prévia da inflação" porque é uma pesquisa igualzinha à do índice considerado oficial no país, apenas em outro período.

Sinal de que mais inflação é bom e de que a economia brasileira vai bem? Não, ao contrário: as projeções agora embutem maior probabilidade de que a alta já prevista em um ponto percentual no início de maio não seja a última do atual ciclo de alta.

Nunca é demais repetir que a causa básica da valorização do real é a elevação do juro no Brasil. É fácil de entender: investidores são remunerados pela rentabilidade de suas aplicações e pela taxa de juro. Se só ao entrar no Brasil já garantem 11,75% ao ano, enquanto a taxa básica dos Estados Unidos está em 0,5%, é óbvio que a Selic virou um ímã de dólares. Isso é ruim? Não pela consequência, porque dólar mais barato ajuda a conter a inflação, mas pela causa.

Como se sabe, a função do juro em alta é reduzir consumo, investimento, crédito. Isso significa que a economia brasileira é obrigada a desacelerar, ou seja, a crescer menos. Então, se a inflação segue em alta, o mesmo ocorre com o juro, que tira velocidade da atividade produtiva.

Quem mencionou a inflação "acima das expectativas mais pessimistas" foi Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Sua projeção era de 0,81%, e atribui a diferença a uma dupla simbólica: gasolina e perfumes - depois do mega-aumento surgiram memes com gasolina vendida em pequenos frascos. O segundo item também apareceu como surpresa não computada na previsão de 0,85% de Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital Modalmais. Conforme o economista, o item do grupo Saúde e Cuidados Pessoais subiu 12,84%.

Mas se bons odores pressionaram a inflação, inspiram mau cheiro logo ali adiante: conforme Sichel, o IPCA-15 mostra "dinâmica e composição ainda desfavoráveis, reforçando nossa tese de elevação de 100bps na Selic em maio" ("bps" são pontos básicos, que equivalem àquele um ponto percentual que o BC já avisou que deve levar a Selic a 12,75%).

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