O PASSO FIRME DA EXPORTAÇÃO
Há vários aspectos relevantes que podem ser enaltecidos a partir da informação de que a indústria calçadista do Rio Grande do Sul teve o melhor primeiro bimestre dos últimos 11 anos em relação a exportações. O aumento dos embarques é expressivo. Ao vender para o Exterior o equivalente a US$ 91 milhões, o Estado superou em 76% o desempenho de janeiro e fevereiro do ano passado.
Um dos primeiros pontos que merecem ser ressaltados se refere ao mercado de trabalho. O segmento é intensivo em mão de obra. Ou seja, se cresce a demanda, o reflexo tende a ser direto nas contratações. Uma boa notícia em um momento em que o país ainda passa por um período de desocupação alta, na casa dos dois dígitos. Reporta-se inclusive disputa das fábricas por trabalhadores. Quando existe essa competição, a tendência é de melhora na remuneração.
É preciso lembrar que, a despeito da leve mas contínua redução do desemprego, a renda dos brasileiros está em queda. Assim, o setor de alguma forma contribui para a possibilidade de reversão dessa tendência de perda de poder de compra devido à inflação alta e persistente. Em janeiro, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o setor teve saldo positivo de 1,9 mil vagas com carteira assinada no Estado, o melhor desempenho da indústria de transformação.
Especialistas e a própria Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) creditam o bom momento ao câmbio favorável às exportações e à busca de alguns países importadores - como os Estados Unidos - por diversificar compras, especialmente em relação às realizadas hoje na China, onde o setor tem baixíssimos custos e é altamente competitivo. Seja qual for a razão, surge uma oportunidade ímpar para dar um passo firme rumo à fidelização de clientes que assegure novos negócios no futuro, mesmo que a conjuntura internacional, altamente volátil, novamente se altere.
As fábricas de calçados do Estado tendem ainda a se beneficiar da ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho, recém concluída. É o segundo ramo da manufatura do Rio Grande do Sul que mais vende para o Exterior via aérea. Mas, hoje, quase todo o volume é escoado por terminais paulistas, o que redunda em custos logísticos maiores e, por consequência, afeta a capacidade de competição.
Em décadas passadas, a indústria calçadista gaúcha, que lidera o setor no Brasil, era bastante voltada a exportações, mas sem apostar em valor agregado. O surgimento da concorrência asiática forçou as empresas a se reinventar, voltando-se mais para a valorização do design e o reconhecimento das marcas, explorando atributos como a brasilidade. Foi uma correção de rumos de sucesso. Lamenta-se apenas que neste momento o mercado interno permaneça aos tropeços devido à estagnação da economia brasileira. A
reabertura das atividades graças à vacinação contra a covid-19, com a volta ao trabalho presencial e a retomada de setores como o de eventos, poderia potencialmente reanimar o consumidor doméstico. Mas a inflação alta e a renda na contramão, infelizmente, obrigam um grande número de consumidores a priorizar itens de primeira necessidade. Menos mal que as exportações ressurgem como alternativa para dar novo impulso para o setor e sua cadeia de fornecedores de produtos e serviços, do couro à moda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário