quarta-feira, 9 de março de 2022


09 DE MARÇO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

GUERRA E TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Guerras estão associadas a guinadas no curso da História. Uma das consequências da agressão russa à Ucrânia que mais preocupam sob o aspecto econômico é a disparada dos preços do petróleo, pressionando custos e a inflação em todo o mundo. As cotações saltaram nos últimos dias para níveis não vistos desde 2008, próximas a US$ 140 o barril, com os rumores ontem confirmados de que as sanções contra o Kremlin incluiriam uma ação coordenada do Ocidente para diminuir ou eliminar as compras da Rússia, um dos principais produtores e exportadores da commodity.

As ameaças foram confirmadas. Os Estados Unidos anunciaram que deixarão de adquirir petróleo e gás russo, enquanto a União Europeia apresentou um plano para cortar as importações em dois terços ainda este ano. O Reino Unido, no mesmo sentido, prometeu zerar as compras até o encerramento de 2022. É uma forma de pressionar Vladimir Putin, que também usava a sua condição energética privilegiada como munição de chantagem e, ao mesmo tempo, meio para financiar a sua guerra.

São decisões ousadas e que gerarão sacrifícios no curto prazo. Para o futuro do planeta e da humanidade, no entanto, pode ser, por linhas tortas, o impulso que faltava para que seja acelerada a transição energética, elevando investimentos em matrizes mais limpas. Foi exatamente esse o aceno do presidente dos EUA, Joe Biden, e de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. O velho continente, mais dependente da Rússia, não quer mais ficar na mão de um governo que considera inconfiável e detentor de grande poderio bélico.

A chegada da pandemia, dois anos atrás, fez o mundo deixar em segundo plano a agenda prioritária de combate às mudanças climáticas. Ao lado da redução do desmatamento, a descarbonização da economia, com a paulatina diminuição do uso de combustíveis fósseis, é a principal forma de mitigar o aquecimento global. Esperam-se, agora, esforços compartilhados para que se amplie de maneira determinada a aposta em fontes como solar e eólica, mesmo que o conflito em curso na Ucrânia venha a eventualmente ter em breve um desejado cessar-fogo permanente. A Europa pretende incentivar também matrizes como biometano e hidrogênio.

O Brasil e o Rio Grande do Sul, felizmente, têm amplas condições de acompanhar o mundo nesta nova corrida energética. É uma área ligada à inovação e requer o desenvolvimento constante de novas tecnologias. Trata-se, portanto, de uma nova fronteira que tem grande potencial para gerar crescimento econômico e empregos de qualidade.

Essa transição, é preciso não se enganar, tende a ser dolorosa e cheia de percalços. Há até a possibilidade de, emergencialmente, países voltarem a recorrer ao carvão. No futuro próximo, não há como eliminar a grande dependência do petróleo e será necessário buscar fornecedores em outros países. Muitos, controlados também por regimes autoritários, como Venezuela e Irã. São os dilemas incontornáveis à frente. No caso da geração de energia elétrica, o grande desafio é fazer com que fontes hoje consideradas alternativas possam ser capazes de garantir suprimento firme. O gás natural, de qualquer forma, por ser menos poluente, deve ser o principal elo nessa transição. É preciso conciliar sustentabilidade com segurança energética. São muitos os obstáculos, mas a tragédia da guerra deve forçar o mundo a apressar uma transformação que, mais cedo ou mais tarde, seria inevitável.

Acostumado a improvisos, o Brasil discute neste momento paliativos para evitar que a alta do petróleo chegue às bombas dos postos de combustíveis. O adequado seria que, além das aflições imediatas relacionadas ao preço da gasolina e do óleo diesel, existisse um planejamento consistente que visasse preparar o país para a nova era que se avizinha.

O Brasil e o Rio Grande do Sul, felizmente, têm amplas condições de acompanhar o mundo nesta nova corrida

OPINIÃO DA RBS

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