quarta-feira, 2 de setembro de 2020


02 DE SETEMBRO DE 2020
FÁBIO PRIKLADNICKI

Vou embora para a Noruega



Que Pasárgada que nada, eu vou embora é para a Noruega. Lá tem até rei. Já mandei um whats para a família: quem quiser faça as malas também. Como prega a racionalidade, minha decisão foi baseada em dados. Puxei do Google o ranking de países com maior Índice de Desenvolvimento Humano e percorri o dedo indicador, sôfrego de excitação, até o primeiro lugar: Norway. Tenho convicção de que este momento estava predestinado, quem sabe obra de algum deus viking. Afinal, meu disco favorito da Vanessa Longoni se chama A Mulher de Oslo. Coincidência?

Não vejo a hora de me tornar um cidadão nórdico, sobrenome complicado eu já tenho - espero que eles não sejam preconceituosos contra pessoas de origem polonesa. Com um pouco mais de familiaridade com a língua norueguesa do que tenho hoje (que é nenhuma), poderei ler Ibsen no original, o que deve ser um privilégio e tanto. E depois ir para algum contemporâneo, como Jon Fosse. Minha dúvida é Knut Hamsun, o Machado de Assis deles. Ganhou até o Nobel de literatura, mas era um notório nazista. Bem, nada é perfeito. O que importa é que hoje a Noruega é um país tão pacato que eles têm que escrever romances policiais para movimentar um pouco as coisas.

Falta apenas decidir a cidade. A cosmopolita Oslo, a charmosa Bergen ou a reservada Tromso, de onde se avista a aurora boreal? O mais próximo que estive da Noruega foi na Dinamarca, onde entrei em um banheiro público subterrâneo no meio da rua, extremamente limpo e bonito, com água quente. Achei chique. Não espero nada menos da terra do rei Harald. Amigos me alertam sobre certa visão idealizada, talvez estereotipada, daquele país, mas eu suspeito que estejam é com inveja.

Agora, veja: e se o país com maior IDH do mundo não for perfeito? E se alguém jogar chiclete no chão? E se um político fizer algo condenável? Não pode ser. Em algum lugar o ser humano tem que dar certo. O Brasil tem essa vantagem: nenhuma decepção abala a expectativa irremediável de que vai melhorar. Isso alimenta nossa alma em desenvolvimento. Sem contar que temos nossas belezas, Machado de Assis, Villa-Lobos, feijoada completa. E aqui é nosso lugar. Pensando bem, acho que é a hora de desfazer as malas. Vou mandar outro whats para a família.

FÁBIO PRIKLADNICKI

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