06 DE JANEIRO DE 2024
J.J. CAMARGO
A modernidade que assusta. Ficamos perplexos em perceber a superficialidade dos jovens nos relacionamentos pessoais. "As grandes mudanças na história nunca vieram dos humildes, mas da frustração das pessoas, com grandes expectativas que nunca se cumpriram."
(Zygmunt Bauman)
Atribuir toda a superficialidade da vida moderna à pressa de viver me parece um exagero. Mas não se pode negar que a ânsia de conquistar posição social, prestígio e dinheiro está consumindo a racionalidade, cada vez mais vista como uma virtude discutível.
Nem a Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, ou a Sociedade do Cansaço de Byung-Chul Han, dois ícones da sociologia moderna, conseguem precisar causas e consequências da instabilidade emocional dessa garotada que, bem ou mal, cuidará de nós logo adiante, e depois, quando já tivermos ido, seguirá decidindo o que é mais adequado para o bem-estar dos nossos filhos e netos.
Então não podemos fazer de conta que não temos nada a ver com a formação dos médicos do futuro. Sem nenhuma dúvida de que ensinamos mais pelo exemplo do que pelo discurso, e completamente convencidos de que a didática do exemplo exige um tempo de observação, estamos perplexos de perceber que justamente esse tempo a geração atual não parece disposta "a perder".
E não creio que exista a possibilidade de transformar as lições do dia a dia, tão ricas e variadas, em experiência verdadeira se não houver o mínimo de introspecção para digeri-las.
Convivendo diariamente com jovens, sinto-me dividido entre a inveja pela leveza com que eles encaram os problemas reais e a preocupação com a superficialidade das relações pessoais, que faz parecer supérflua a emoção.
Conscientes de que a vida fica vazia sem os ingredientes emocionais, assombra a total incapacidade de redigir um texto minimamente emotivo e a fugacidade dos relacionamentos amorosos.
A modernidade trouxe consigo a cultura do individualismo e do descartável, em todas as interações humanas e de maneira marcante nos relacionamentos amorosos. As plataformas de relacionamentos, ainda que possibilitem eventualmente relacionamentos duradouros, certamente estimulam relações voláteis, com uma fantasiosa lista de opções emocionais, diminuindo a motivação de investir tempo e empenho em um único relacionamento.
A naturalidade com que os jovens se aproximam, ficam e passam adiante impressiona pela banalização do afeto. E sem queixas de ambos os lados, porque nesta peregrinação amorosa todos parecem desprezar a permanência e considerar retrógrada a fidelidade.
Enquanto isso, os mais velhos, sempre preocupados em entender o mundo em vivemos (sem termos tido a oportunidade de escolher a época), e empenhados em fugir do rótulo de ultrapassados, não conseguimos disfarçar o espanto de reconhecer que um sentimento tão inerente ao amor verdadeiro quanto o ciúme esteja ameaçado de extinção. Menos ainda que isso seja chamado de evolução.
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