O AMOR É HACKEÁVEL HOJE EM DIA?
Ao expressar minha crença a amigos da possibilidade de hackear o amor, enfrentei uma enxurrada de reações, entre risos e resmungos. Comecei a refletir sobre a complexidade do amor contemporâneo, especialmente no contexto dos aplicativos, como Tinder, agora turbinados por IAs.
O amor, seja compaixão, filial ou romântico, é sempre moldado por influências externas. Amamos porque temos o imperativo biológico de amar e porque somos ensinados a amar. Agora, estamos vendo uma formidável mudança: o amor virou um produto impulsionado e manipulado por algoritmos e dados. Em um aplicativo de relacionamento, a construção do amor é uma questão científica, biológica e algorítmica.
Criou-se um mercado que supostamente atende a nossos desejos sugerindo afinidades com parceiros (as) com base em preferências nossas preexistentes e declaradas. Mas será que a pessoa que pedimos é a que realmente desejamos? Tem quem goste, vendo uma ampliação de horizonte ao conhecermos gente que, de outra maneira, nunca estaria em nosso radar. Mas penso diferente: a realidade é que a nossa amplitude de escolha amorosa já é limitada - e continuará a estreitar-se.
Explico: se biológica e culturalmente somos inclinados a escolher alguém com o perfil A, os algoritmos nos oferecem inúmeras variantes dessa pessoa A; mas também introduzem uma pessoa com perfil C, previamente não considerado, pensada para nos testar. O algoritmo do Tinder aprende constantemente conosco, mesmo errando. À medida que concedemos acesso às nossas emoções, ele se torna mais hábil em interpretar nossas reações, calibrar nossas sensações e até em nos aconselhar biologicamente.
O Tinder, inicialmente criado como um laboratório de captura de dados, agora nos conhece melhor do que nós mesmos, oferecendo o que acreditamos querer. Esta evolução levanta questões sobre até que ponto estamos dispostos a abrir mão do livre-arbítrio em troca de um serviço mais personalizado. O desafio está em equilibrar o conforto da personalização com a preservação da individualidade diante da crescente influência da inteligência artificial em nossas vidas.
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