segunda-feira, 15 de janeiro de 2024


15 DE JANEIRO DE 2024
COMPORTAMENTO - Sofia Lungui

COMPORTAMENTO

"Não existe idade certa para nada", diz caloura de 58 anos. Célia Maria Trevisan Teixeira passou em terceiro lugar no vestibular da universidade federal e vai investir em sonho antigo.

Não há idade para a realização dos sonhos. Foi com essa ideia em mente que Célia Maria Trevisan Teixeira, 58 anos, foi atrás de um desejo antigo: estudar Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A aprovação veio no último vestibular.

- Não existe idade certa para nada. Quem acha que está velho demais para fazer alguma coisa não está. Não podemos desistir - ressalta ela.

Professora aposentada, Célia conta que o desejo de atuar ficou guardado, e boa parte da vida foi dedicada ao magistério. Segundo ela, são "aqueles sonhos que, (enquanto) a vida vai acontecendo, a gente vai deixando para depois". A oportunidade de concretizar os planos surgiu em 2023. Assim que saiu sua aposentadoria, começou a se envolver mais com o teatro.

Primeiro, ela tentou entrar no curso por ingresso diplomado, mas a concorrência era grande, não deu certo. Então, a professora decidiu prestar o vestibular para ingressar em 2024.

Apesar de estar um pouco "enferrujada", Célia se dedicou aos estudos e passou em terceiro lugar no curso de Bacharelado em Teatro. A caloura conta que há muitos anos não tem a experiência de estar do outro lado da sala de aula, como aluna, e está empolgada para o início do ano letivo.

- Estudei com afinco, segui as dicas que eu sempre dizia para os meus alunos. A gente sempre acha que demos o nosso melhor, mas foi uma surpresa, fiquei muito feliz de ver meu nome na lista dos aprovados. Faz tempo que eu não sou aluna, mas gosto muito de estudar e quero tirar o máximo de proveito - conta.

Respeito

Segundo o professor do Instituto de Artes e chefe-substituto do Departamento de Arte Dramática da UFRGS, Chico Machado, uma das marcas do curso é a diversidade e o respeito:

- Existe um conservadorismo predominante dentro da área artística, mas aqui temos um ambiente saudável, com muita representatividade e diversidade. As pessoas têm de saber respeitar umas às outras, essa é a luta, e isso também passa pelos modos de fazer teatro.

Interesse que começou cedo

O primeiro contato direto de Célia com a atuação foi no ano passado. Antes do vestibular, ela participou de oficinas, como do Grupo Teatrofídico, com o qual atuou na adaptação da peça Se os tubarões fossem homens, de Bertolt Brecht. Também se apresentou na peça Toda nudez será castigada, de Nelson Rodrigues, junto ao grupo do Lab Cênico Leo Maciel.

O interesse pelas artes cênicas surgiu ainda na infância. Célia relata que o avô era guarda no Theatro São Pedro, na década de 1970, e costumava levá-la para assistir aos espetáculos infantis. Ela acabou se formando em Letras, em 1989, e trabalhou na rede municipal a partir dos anos 1990.

Ao longo da trajetória, deu aulas de Língua Portuguesa e Literatura. Ao longo de todos esses anos, a paixão pela cultura esteve presente, e ela conta que tentou transmitir esses valores aos alunos.

- Educação e cultura são duas coisas muito interligadas. Ambas são cruciais para termos uma sociedade mais igualitária. Cultura e educação nunca são demais - diz ela, fazendo um convite para que as pessoas frequentem o teatro e valorizem a arte.

Quando contou aos amigos e familiares que tinha decidido cursar teatro, Célia teve o apoio de todos do seu convívio, inclusive da filha Helena, 29 anos, e do filho Artur, 21. A professora reconhece que vem de um contexto privilegiado e que muitas pessoas acabam não correndo atrás dos sonhos após certa idade, por limitações financeiras ou pelas imposições sociais.

Preconceitos

Célia acredita que a convivência entre pessoas diferentes e a multiplicidade de perfis, idades e experiências é o que enriquece a vida, e que é preciso combater o etarismo, entre outros preconceitos, para que mais pessoas consigam alcançar seus objetivos.

- Nunca é tarde para estudar, não existe isso. O que existem são possibilidades que se abrem em diferentes momentos da vida, que a pessoa pode aproveitar ou não. Espero que aqueles que têm um sonho guardado possam vivenciar isso de alguma forma - ressaltou.

Acredito que educação e cultura são duas coisas muito interligadas. Ambas são cruciais para termos uma sociedade mais igualitária. Cultura e educação nunca são demais, são coisas que ficam para nós, enquanto seres humanos, ninguém vai tirar isso da gente.

Célia Maria Trevisan Teixeira - Professora aposentada

Aqui nós temos um ambiente saudável, com muita representatividade e diversidade. As pessoas têm de saber respeitar umas às outras, essa é a luta, e isso também passa pelos modos de fazer teatro.

Chico Machado - Professor do Instituto de Artes

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