sexta-feira, 26 de janeiro de 2024


26 DE JANEIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

O FUTURO EM JOGO

Merece máxima atenção da sociedade o relatório "Pobreza infantil no RS entre 2012 e 2022", estudo produzido por pesquisadores do PUCRS Data Social: laboratório de desigualdades, pobreza e mercado de trabalho, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). O estudo mostra que, no ano passado, 30,2% das crianças gaúchas viviam em condições de pobreza. O desenvolvimento socioeconômico desejado pelo Estado virá apenas se essa taxa tiver uma redução substancial nos próximos anos e décadas.

O trabalho aponta que, em termos nacionais, o Rio Grande do Sul é a segunda unidade da federação com o menor índice neste quesito. Em situação melhor está apenas Santa Catarina (23,4%). A média nacional é de 49,9%. Ocorre que, observando-se o histórico recente dos números, há uma certa estagnação no Estado. Ou seja, mesmo que em alguns anos a taxa tenha chegado a picos de quase 37%, como em 2018, em regra nos últimos 11 anos os percentuais são semelhantes, na casa dos 30%. 

Conclui-se que, no período analisado, houve insucesso na busca por diminuir a realidade de uma vida de privação imposta a quase um terço das crianças gaúchas. De outro lado, não há como se conformar com o fato de o Rio Grande do Sul ter uma condição privilegiada na comparação com a média nacional. A situação do Brasil, uma das nações mais desiguais do mundo, é apenas ainda mais dramática.

É dever ressaltar que o quadro atual, com a cristalização da taxa de pobreza entre crianças, é um preditor de perpetuação da miséria, das iniquidades sociais, da criminalidade, do subemprego e de uma economia que cresce abaixo de suas potencialidades. As perdas são para toda a coletividade do Rio Grande do Sul, e não apenas para aqueles que estão nesta faixa de 30,2%. A linha de pobreza utilizada no relatório é uma renda mensal per capita no domicílio de até R$ 636,52.

Como apontam os autores do trabalho, a maior implicação é o comprometimento do futuro. Crianças em situação de pobreza estão mais expostas a doenças infecciosas, à violência e, por múltiplos fatores, a um aprendizado aquém de suas capacidades. Isso, na vida adulta, terá reflexo na renda, e a lógica aponta que essas pessoas tendem a ter filhos sujeitos às mesmas dificuldades. O círculo danoso se renova.

Outra vez deve ser mencionado que o Rio Grande do Sul é o Estado do país com ritmo de envelhecimento da população mais acelerado. O desafio demográfico vai exigir recursos humanos mais qualificados e produtivos. Ou seja, a geração de riqueza per capita terá de ser maior. 

Por óbvio, o caminho mais indicado para formar cidadãos conscientes de seus direitos e aptos aos novos desafios do mercado de trabalho é o da melhoria da qualidade da educação pública. Mas isso não basta. Os cuidados com a saúde na primeira infância, uma rede robusta de apoio social às famílias de baixa renda e mesmo a situação econômica do país fazem parte desta equação complexa.

Dar esperança de futuro melhor às crianças significa a possibilidade de o Rio Grande do Sul, à frente, ter mais indivíduos com maior capacidade de construir uma vida digna, que, ao mesmo tempo, sejam um trunfo para alavancar o progresso do Estado.

OPINIÃO DA RBS

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