27 DE JANEIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS
RECORDAR PARA NÃO REPETIR
A cada 27 de janeiro, como este sábado, renova-se a oportunidade para refletir sobre os riscos do ódio e o valor do exercício da tolerância. Afinal, esta é a data escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ser o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Serve para recordar o genocídio de 6 milhões de judeus pela Alemanha nazista ao longo da Segunda Guerra Mundial. Rememorar um acontecimento doloroso também é importante. Ao se voltar a examinar as causas de um evento traumático, reforça-se a mensagem de que a humanidade não pode consentir com a possibilidade de que algo semelhante venha a se repetir.
É evidente que, neste momento, há razões ainda maiores para se lembrar de um dos episódios mais terrificantes da História. Há menos de quatro meses, o grupo terrorista Hamas executou o maior massacre de judeus desde o Holocausto e, ainda hoje, mantém mais de uma centena de reféns na Faixa de Gaza. Um dos objetivos fundadores dessa facção extremista, nunca é demais reforçar, é varrer Israel do mapa da Terra e eliminar o direito de um povo à sua autodeterminação.
Uma das tantas consequências lastimáveis que se seguiram à resposta do Estado de Israel ao ataque terrorista foi o aumento do antissemitismo no mundo. A onda de hostilidades, gerada tanto por preconceitos antes latentes, ignorância e supostamente por ideologia, infelizmente, também atingiu o Brasil. Um mês depois do ataque do Hamas, os casos de antissemitismo no Brasil registraram um aumento de cerca de 1000% em relação a semelhante período do ano anterior, mostrou levantamento da Confederação Israelita do Brasil (Conib).
Constatar que uma odiosidade do gênero também ganha espaço entre os brasileiros é decepcionante. O país, afinal, sempre foi um exemplo de convivência respeitosa e pacífica entre indivíduos de diferentes religiões, raças e nacionalidades. Mas, como é notório em diversas situações nos últimos meses, há motivos para lamentar posturas políticas e pessoais irresponsáveis e equivocadas, desde a sugestão de boicotes à ira indisfarçada. São condutas que, ao fim, alimentam o antissemitismo.
A despeito do vagalhão de preconceito, deve-se confiar que a sociedade brasileira, em sua ampla maioria, manterá a postura de tolerância que a caracteriza. Os radicais, de qualquer espectro, costumam ser barulhentos. Mas são apenas uma minoria ruidosa. O que prevalecerá, ao cabo, serão as relações civilizadas entre os cidadãos, a despeito das diferentes fés professadas ou da origem de antepassados.
Postula-se apenas às lideranças políticas que tenham a responsabilidade de não insuflar ainda mais divisões internas. O Brasil vive um período de fratura social por diferenças ideológicas. É desajuizado estimular mais desarmonia importando conflitos.
Este 27 de janeiro marca os 79 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz. Nada melhor do que uma data que lembra os estertores de um dos episódios de maior crueldade da História - que também vitimou ciganos, deficientes físicos, homossexuais e opositores do regime nazista - para ponderar sobre as consequências de palavras e atos que incitam a discórdia.
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