sábado, 20 de janeiro de 2024


20 DE JANEIRO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

GRITOS DA NATUREZA

As previsões indicavam "tempestade", mas o que se abateu sobre grande parte do Estado foi além e se transformou em caos. Não repetirei o que já se detalhou sobre as chuvas e as enlouquecidas ventanias de dias atrás, mas é necessário buscar as causas profundas e tentar saná-las, em vez de apenas socorrer os afetados.

A natureza está gritando e, em gemidos de dor, pede socorro. Seca na Amazônia e, aqui, chuva e tempestades. Continuamos ignorando as causas reais e nos preocupando só com as consequências. É como tratar a febre dando ao enfermo cada vez mais água, sem buscar a origem do processo inflamatório.

A Capital e as cidades do Interior estão, em parte, sem eletricidade e água, atingindo até hospitais. A crise climática está aí, mas o Estado continua ausente. Nos bairros humildes, faltava eletricidade já antes da tempestade. O caos é profundo e exige medidas drásticas.

Governos e grandes empresas (como as multinacionais) continuam surdos aos compromissos assumidos, anos atrás, por 195 países no Acordo de Paris sobre o aquecimento global. O pacto previa restringir o uso dos combustíveis fósseis para (até o fim do século) diminuir o aquecimento global em 1,5° C em relação aos níveis pré-industriais. Mas se mantivermos a atual visão climática, cada vez haverá mais tormentas, alternadas com longas estiagens. E ambas atingirão a agricultura, deixando o mundo à beira da fome.

"Estamos construindo uma catástrofe global", advertiu o secretário-geral da ONU, António Guterres. O principal ponto crítico é o que os países se comprometeram a fazer e o que fazem em verdade. Os acordos e pactos viram meros atos burocráticos, que se aplicam só no papel.

Desde a cúpula do clima de 2021, foi removida apenas 0,5 gigatonelada do dióxido de carbono lançado na atmosfera, menos de 1% do que haviam se comprometido até 2030, data-limite para evitar a catástrofe.

Indago: em apenas seis anos será possível remover o perigoso dióxido de carbono que contamina a atmosfera há mais de um século?

As mudanças climáticas, hoje transformadas em crise, se agravaram com a revolução industrial, um passo adiante no conforto de todos, mas que desdenhou da natureza. Agora, a natureza grita em dor profunda.

FLÁVIO TAVARES

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