terça-feira, 9 de janeiro de 2024


09 DE JANEIRO DE 2024
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Anos

Um ano atrás eram presas centenas de pessoas que invadiram e destruíram os prédios mais representativos da república. Vi dois documentários sobre o infausto evento, um da Folha de S.Paulo (disponível no YouTube pelo link gzh.rs/doc_folha) e outro da GloboNews, e me perguntei inutilmente como, como, como é que aquilo ali aconteceu. Negligência, má-fé, golpismo, desprezo pela vida democrática, crença em salvacionismo, agressividade, ódio, capangas agindo para destruir, secundados por patetas desinformados por perversos grupos de zap. Por trás de tudo, militares, agindo ou deixando de agir.

Dez anos atrás, 2014, já em janeiro estávamos preparando o país para receber a Copa do Mundo de Futebol. O mundo não tinha entrado nesse túnel infernal da polarização extremada, embora a fera mostrasse já os dentes. Naquele ano haveria a reeleição da Dilma, num processo agressivo (Marina Silva foi destruída pela esquerda, não esqueçamos) que não terá sido dos menores fatores na preparação do impeachment.

Vinte anos atrás, 2004, estávamos em outro mundo ainda. As primícias do novo século e milênio, no começo do segundo governo Lula, eram suficientes para garantir otimismo. Nota tecnológica: não havia smartphones ainda; o Facebook seria lançado em fevereiro daquele ano.

Trinta anos atrás era 1994, e o sonho coletivo mais vistoso se chamava Mercosul. Aquela novidade postulava a existência de um mercado comum aos quatro países signatários, à semelhança da Europa. Em Porto Alegre, o sonho ganhava corpo na forma de nomes de prédios e casas de comércio, assim como na ideia de transformar a capital na sede de uma das grandes instituições do futuro Mercado. Teríamos aqui ou o parlamento do Mercosul, ou a Corte, algo assim. A partir da prefeitura de Porto Alegre, com Orçamento Participativo a pleno, se articulou a Rede Mercocidades, para dar voz a instâncias subnacionais naquele que parecia ser o caminho óbvio do futuro. Nenhum Milei no horizonte.

Quarenta anos atrás, 1984, o sonho era bem mais singelo: eleições diretas para presidente. Votar, simplesmente. Votar e ver respeitado o voto. Emenda Dante de Oliveira, comícios, Fafá de Belém cantando, Brizola ao lado de Ulysses, Lula e FHC, alguém soltando uma pomba branca, efusão lírica coletiva. Simplesmente sair das garras dos militares e de seus acólitos, que 20 anos antes haviam derrubado um governo legitimamente eleito. E fomos derrotados.

LUÍS AUGUSTO FISCHER

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