Chega a ser constrangedor o amadorismo da Abin sob Bolsonaro
O site da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) descreve as atribuições do órgão: "assegurar que o Executivo Federal tenha acesso a conhecimentos relativos à segurança do Estado e da sociedade como os que envolvem defesa externa, relações exteriores, segurança interna, desenvolvimento socioeconômico e desenvolvimento científico-tecnológico".
Como se vê, não consta desse rol de atividades servir a interesses particulares de quem ocupa, por delegação do voto dos brasileiros, o poder transitório.
Não obstante, a se confirmar as investigações da Polícia Federal (PF), a agência de inteligência brasileira, que tinha como diretor-geral Alexandre Ramagem, hoje deputado pelo PL, transformou-se em um braço ampliado do presidente Jair Bolsonaro e de sua família para produzir relatórios sobre adversários reais ou imaginários do Planalto: ministros do Supremo Tribunal Federal, o então presidente da Câmara, entre outros.
Não chega a surpreender, em uma gestão que tinha como característica mimetizar o público e o privado, que também esse fundamental organismo de Estado tenha sido aparelhado para fins particulares: dos móveis do Palácio do Alvorada ao escândalo das joias, o patrimonialismo, praga brasileira histórica que não obedece matiz político, floresceu nos anos Bolsonaro.
Em sua sina de encontrar traidores, o então presidente chegou a dar sinais do desejo de transformar os órgãos de inteligência em seus informantes particulares. Em reunião ministerial, em abril de 2020, por exemplo, ficou famosa sua queixa segundo a qual a PF e as Forças Armadas não lhe abasteciam, a contento, com informações. Ele poupou a Abin que, segundo o presidente, lhe "dava algumas informações". À época, a agência estava subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do general Augusto Heleno, outro obcecado por identificar e neutralizar detratores.
A Abin deve estar a serviço do Estado brasileiro e de sua população. Não contra a sociedade ou a favor de interesses particulares - e muito menos a serviço do inquilino do Planalto para caçar seus desafetos.
As barbeiragens da agência tem componentes risíveis, típicos de filmes de espionagem de péssima categoria, que constrangem o que deveria ser o órgão ao qual cabe evitar possíveis ameaças ao Estado brasileiro. O flagrante do drone pilotado por um diretor da Abin para espionar o então governador do Ceará, Camilo Santana, explica - e muito - porque a PF usou o termo "inteligência" entre aspas no relatório do caso ao explicitar as operações da agência. É de um amadorismo impressionante.
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