quinta-feira, 18 de janeiro de 2024


18 DE JANEIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

RESPOSTAS ESSENCIAIS

A tempestade destruidora que atingiu a capital gaúcha e outras cidades da Região Metropolitana na última terça-feira deixa um desafio adicional para os governantes e as empresas concessionárias de serviços públicos: dar respostas mais transparentes e mais convincentes à população. Independentemente do esforço de todos para restabelecer a normalidade depois de um fenômeno atípico - que, infelizmente, por conta das transformações climáticas, está se tornando rotineiro -, é visível e plenamente justificada a revolta dos cidadãos com a falta de informação e com a dificuldade de estabelecer contato com os responsáveis pelos serviços.

Cabe reconhecer que o governo do Estado e algumas prefeituras, entre as quais a de Porto Alegre, adotaram precauções corretas, como a divulgação de mensagens orientadoras a partir de previsões meteorológicas que antecipavam a severidade do fenômeno. Mas os governantes deveriam prever, também, a necessidade de dar respostas rápidas e objetivas para pessoas desesperadas pela falta de luz, de água e pelas dificuldades de deslocamento. Ninguém ignora as dificuldades. 

Nem o poder público nem as concessionárias de serviços essenciais têm capacidade para solucionar problemas graves com a mesma velocidade da natureza enfurecida. A retirada de árvores caídas, o restabelecimento de redes elétricas e de transmissão de dados, a desobstrução de ruas alagadas e o atendimento individual aos habitantes atingidos exigem tempo, recursos e pessoal preparado. Mas as explicações e as respostas para a ansiedade dos usuários podem ser mais rápidas. E precisam ser, também, consistentes.

Não foi o que se viu no dia seguinte ao caos. Um exemplo gritante da comunicação deficiente foi a reclamação pública do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, sobre sua dificuldade em entrar em contato com a CEEE Equatorial, principal prestadora de serviço de eletricidade da Região Metropolitana. Quando um prefeito não consegue ser atendido, o que sobra para o cidadão comum?

Outra constatação perturbadora é a visível tentativa dos governantes e dos prestadores de serviços de transferir responsabilidades uns para os outros quando são cobrados. O recente debate sobre a instalação de geradores nas estações de água do Dmae deixou evidente essa estratégia diversionista.

Nesse contexto, é compreensível o desencanto dos cidadãos com as autoridades que se esquivam do contato com o público na hora ruim. Mas o que mais causa indignação é mesmo a pouca efetividade dos governos e de seus parceiros para restabelecer os serviços essenciais depois de um evento atípico, como foi o temporal da última terça-feira. 

Mais do que explicações, as pessoas querem luz para suas casas, para seus aparelhos eletrônicos, para a conservação dos alimentos e para os elevadores. Mais do que o discurso elaborado dos integrantes dos gabinetes de crise, os cidadãos querem água potável para beber, para a higiene e para a limpeza. Mais do que uma comunicação melhor e qualificada, os contribuintes exigem que seus representantes cumpram seus compromissos.

Falta muito para isso. Ainda assim, é importante reconhecer que a eventual inépcia dos administradores públicos e dos prestadores de serviços deve ser cobrada democraticamente e até investigada quando for o caso. Só não cabe transformá-la em argumento ideológico para ataques oportunistas às privatizações e às concessões, que continuam sendo necessárias em Estados carentes de recursos para modernizar e ampliar seus serviços.

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