O fim das sirenes na escola
As escolas municipais de Porto Alegre terão 180 dias para substituir as tradicionais sirenes por toques musicais e visuais. O prefeito em exercício Mauro Pinheiro sancionou a lei na sexta-feira. O objetivo é evitar o desconforto a quem tem transtorno do espectro autista (TEA), extremamente suscetível ao dispositivo usado nos colégios para marcar a transição de disciplinas, a troca de professores e o recreio.
Nove escolas se anteciparam à obrigatoriedade e já adotaram a sinalização musical: Jean Piaget, Governador Ildo Meneghetti, Gabriel Obino, Afonso Guerreiro Lima, Vereador Martim Aranha, Deputado Victor Issler, Chico Mendes, Pepita de Leão e Aramy Silva.
Haverá paz geral aos ouvidos, o que é extremamente benéfico às novas gerações de estudantes. Da mesma forma, não existirão mais os empurrões e a corrida em direção à porta, o descontrole coletivo e predatório para a rua.
Talvez agora funcione a fila indiana para sair da sala. No meu tempo, jamais deu certo. É o adeus a uma era sonora, a despedida do caos. Acabei doutrinado pelo susto de bombas, das sirenes de evacuação, da explosão dos fogos de artifício nas nossas instituições de ensino.
Em contraste com o pacato silêncio do giz na lousa, vinham de repente aqueles alarmes estridentes que roubavam a nossa tranquilidade e nos avisavam do fim dos períodos. Éramos sacudidos por dentro, vítimas da taquicardia. Como não pensamos em substituir as sirenes antes? Quantos alunos não experimentaram gatilhos de pânico?
Qualquer um com mais sensibilidade tinha ganas de gritar, de chorar, de espernear. Eu lembro que a minha turma se agitava em desespero, fechava os cadernos e não ouvia mais o aviso do dever de casa. Todos desistiam de prestar atenção devido ao barulho paralisante.
O sinal foi tão traumático que até hoje guardo uma mania da época: eu cheiro os meus braços. Fungo o perfume da minha pele. Eu ficava deitado em meus braços esperando o término da aula. Como a professora sempre finalizava o conteúdo mais cedo, sobravam cinco minutos sem nada para fazer.
Ela ordenava: - Permaneçam em silêncio! Ninguém deveria conversar com o colega. Eu pousava a cabeça nos meus dois braços. Montava uma caminha na minha mesa. Ficava debruçado nos cotovelos, sentindo o meu calor aconchegante.
Minha carne entoava uma canção de ninar pelo olfato. O gesto esquisito continha a ansiedade. E os braços ainda me serviam de tampão, para sufocar o terror das sirenes e proteger o pêndulo suave do meu coração.
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