30 DE JANEIRO DE 2024
INFORME ESPECIAL
A gente não quer só comida
A dupla de ativistas que jogou sopa na Mona Lisa - a mais célebre pintura (ao lado) do Museu do Louvre, em Paris - deveria ouvir aquela canção dos Titãs. Com tradução simultânea, de preferência. E no volume máximo.
Você sabe, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". Para refrescar a memória: a música Você Tem Fome de Quê? foi lançada pelo grupo em 1987, tornando-se um clássico do rock nacional e um hino para quem deseja uma vida plena. Uma vida muito além das necessidades básicas.
Pois as manifestantes que "ensoparam" La Gioconda disseram que o ato, realizado no último domingo, foi um protesto para exigir o direito a uma boa alimentação.
- O que é mais importante? A arte ou o direito a uma alimentação saudável e sustentável? - perguntaram elas, diante da tela.
Quanta ignorância. O quadro nada sofreu, é bom que se diga. Há anos, é protegido por vidro blindado. Ainda assim, não deixa de ser uma tentativa de vandalismo, e o pior: com resultados questionáveis.
Quem defende esse tipo de ação, como já escrevi aqui, quando uma criação de Diego Velázquez foi martelada, em Londres, argumenta que o objetivo é gerar imagens chocantes para chamar a atenção para causas nobres. Pode até ser, mas os efeitos práticos têm sido nulos.
No caso da obra de Velázquez, o protesto de novembro de 2023 exigiu o fim da exploração de petróleo no mundo. Antes disso, em maio de 2022, um homem já havia atirado uma torta na Mona Lisa, em ato contra a destruição do planeta. Agora, ela foi outra vez lambuzada, e o pior: sob a justificativa de uma falsa oposição e ainda desperdiçando comida.
Precisamos tanto de alimentação saudável quanto de arte. Não basta comer bem. É preciso viver bem e isso inclui, sim, ter acesso à cultura. São dois direitos invioláveis.
A letra dos Titãs, lá em 1987, já dava o recado. A gente não quer só comida, não.
A gente brinca que um "abre" e outro "fecha" o jornal - eu, na página 2, ele, no final (ou no início, dependendo de quem lê). Fabrício Carpinejar (no detalhe) é um "cara único", autêntico até a raiz dos cabelos que já não tem. Foi exatamente por isso - e por admirar a forma como ele vê o mundo - que convidei o Carpi para ocupar este espaço.
Em 2011, ele deu vida à série Beleza Interior. Durante um ano, viajou pelos rincões do Rio Grande e relatou, nas páginas de ZH, o que chamou de "passeio pela alma do Estado". As histórias viraram até livro, já esgotado.
Quando pedi a ele que indicasse um lugar para visitar nas férias, ele se lembrou de uma daquelas aventuras. E saiu do óbvio, claro! Apontou um destino para quem é "gaúcho raiz" e carnívoro (perdoem-nos os amigos vegetarianos).
- Escolho o lugar onde comi o melhor churrasco de toda a minha vida: Lagoa Vermelha - disse ele, triunfal, para em seguida explicar:
- Lá, você vai encontrar o churrasco mais suntuoso já visto. Feito em bambu e de lamber os beiços. A carne não é dividida em partes para assar. O boi é crepitado inteiro em fogo de lenha no chão. O assador corta a picanha, o vazio, a costela, tudo no olho. Não existe essa história de pebolim, de virar espeto. É o modo campeiro mais viking que existe.
À época, Carpi foi recebido pelo famoso Chico Fialho (veja ele na foto acima, feita durante a série, em 2011). O exímio assador morreu em 2015. Ficaram as boas lembranças e o sabor da carne preparada com destreza, que fez escola no município.
Lagoa Vermelha, para quem não sabe, é a terra da Festa Nacional do Churrasco. A próxima edição será em fevereiro de 2025, mas você pode provar a iguaria em qualquer época do ano. A dica é almoçar na churrascaria Ponteio Fattoria e se hospedar no Lagoa Parque Hotel, com piscina de água termal e trilha ecológica.
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