Veja como organizar as finanças pessoais em 2024
Especialistas em planejamento financeiro dão dicas para colocar as contas em ordem, sair das dívidas e começar a investir
Uma das promessas mais feitas na virada de ano é organizar a vida financeira. Seja limpar o nome, controlar melhor os gastos, o orçamento doméstico ou começar a investir, a maioria dos brasileiros ainda não conquistou o equilíbrio financeiro ideal.
Pesquisa Datafolha de dezembro indica que dois terços não têm reserva de emergência e apenas 8% se prepara de alguma maneira para a aposentadoria que não seja com o INSS (52%) ou a previdência privada (13%). Pior, 35% dos brasileiros estão inadimplentes, segundo levantamento do Serasa de novembro. São 71,81 milhões com contas atrasadas.
O primeiro passo para se organizar financeiramente é apontar, de forma detalhada, todos os gastos - Gabriel Cabral/Folhapress.
De acordo com planejadores financeiros, todas essas situações são contornáveis. Basta se organizar e traçar metas realistas.
Pegue um caderno, faça uma planilha no computador, abra as notas do celular ou instale o app de sua preferência e siga, passo a passo, a dica de profissionais para colocar as finanças pessoais em dia em 2024:
1. MAPEIE O SEU CUSTO DE VIDA
Segundo Carol Stange, educadora financeira certificada, consultora CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e analista da rede social Invight, a primeira coisa a se fazer, independente da situação, é anotar todos os gastos. Todos mesmo.
"Não dá para falar de futuro sem isso. Preciso saber quanto eu custo, ou quanto custa a minha família, contabilizando todas as contas, incluindo presente de aniversário, IPVA, material escolar, supermercado, farmácia etc.", diz a planejadora financeira
Para isso, é possível usar o que se desembolsou em 2023 como base. Para ajustá-lo a 2024, acrescente 5% ao custo, que se aproxima da inflação de 4,46% prevista para o ano que passou, segundo pesquisa Focus do Banco Central feita com economistas.
Segundo Luis Felipe D’Avila, supervisor de consultoria financeira da Neon, quanto mais detalhado o mapeamento, melhor. "Restaurante, por exemplo, não pode entrar em alimentação, é lazer", diz.
Para quem não tem registros tão detalhados dos gastos, a dica de Renan Asmus, assessor de investimentos Nova Futura Private, é usar um mês convencional, no meio do ano, sem ser um período festivo ou de viagens, para obter uma média mensal de ganhos e despesas. Com ela, é feito o fluxo de gastos, que inclui o salário e rendimentos, como aluguel.
"Um erro muito comum é contar com reajustes salariais ou bônus que não estão em contrato, o que não é prudente, pois não é algo garantido. A maioria das empresas reajustam de acordo com o salário mínimo", diz Asmus.
Depois, é necessário contabilizar todo o patrimônio (dinheiro em banco, reserva de emergência, investimentos, veículos, imóveis, entre outros) e todas as dívidas (faturas atrasadas, financiamentos, consórcios, empréstimos etc). "Quanto mais detalhado, melhor", afirma Asmus.
Segundo o especialista, o valor a ser considerado na contabilização de bens é o menor possível. Ou seja, aquele que consta na declaração do Imposto de Renda referente à compra de anos atrás ou o da tabela Fipe. Assim, se conta com um dinheiro que é garantido, sem especulações.
Com a somatória de tudo o que se tem e se deve, é possível conferir se está superavitário (tem dinheiro para arcar com os compromissos) ou se está endividado (deve mais do que tem).
2. REAJUSTE DESPESAS E QUITE DÍVIDAS
Caso esteja endividado, ou com gastos equivalentes a ganhos, é necessário reajustar os hábitos financeiros para que sobre mais dinheiro ao fim do mês.
A prioridade é economizar o máximo possível para equalizar os compromissos o quanto antes. Quanto mais tempo se deve, mais se deve.
"Se distancie das coisas de que te fazem gastar. Aproveite o Desenrola e resolva a vida para ter acesso a um bom crédito e poder obter financiamentos melhores", diz D’Avila.
Além de economizar, pode ser o caso de vender bens, fazer bicos ou arrumar um trabalho de meio período.
"Às vezes vale a pena vender o carro para pagar as dívidas mais rápido e mais barato, especialmente se a pessoa mora em uma grande cidade", diz Asmus.
Para o pagamento, priorize as dívidas com as maiores taxas de juros, ou as que ameaçam o patrimônio, como o financiamento da casa onde se mora.
Para quitá-las, vale sempre negociar com o credor para obter desconto ou melhores condições de pagamento, como um alongamento da dívida.
Nessa hora é muito importante fazer conta e pensar com calma, dizem os especialistas. A depender da taxa cobrada, pode valer a pena pegar um empréstimo a taxas menores para saldá-la. Ou, então, vender algum bem para amortizá-la à vista, com um desconto maior.
"Se você tem uma dívida que você identifica que não vai conseguir pagar, ou você renegocia, ou vai ficar com o nome sujo. Se antecipe e procure a instituição para renegociar", diz Asmus.
Mas, se seu nome já está sujo, é preciso verificar se a sua dívida ainda está com o credor original ou se ela foi vendida para uma outra instituição. Para isso, é necessário entrar em contato com o originário.
3. RESERVE DINHEIRO PARA EMERGÊNCIAS
Depois dos reajustes no orçamento, é hora de olhar para os investimentos. O primeiro deles não é exatamente uma aplicação, mas um colchão de segurança: a reserva de emergência.
Ela é necessária para situações imprevistas, como demissão, acidente ou enfermidades, e independe de situação socioeconômica. "Não é algo que só quem não é rico precisa. Milionários precisam ter reserva. Todos precisamos", diz Carol.
A reserva deve equivaler a, no mínimo, seis meses de gastos e pode chegar a um ou dois anos, dependendo da estabilidade do ramo de atuação e do nível de gastos. "Deve ser um período confortável para conseguir se realocar no mercado de trabalho", diz Asmus.
"Se você é um pai de família que sustenta todos em casa, é quem mais precisa de uma reserva de emergência. É prudente economizar para constituí-la", completa o especialista.
A reserva deve estar alocada em um investimento de renda fixa de liquidez diária, como um CDB de banco grande tradicional ou o Tesouro Selic. Ambos acompanham a Selic, e tendem a garantir que o dinheiro aplicado renda acima da inflação e, também, acima da poupança.
Atualmente, a rentabilidade da poupança está em 8,07% ao ano, contra 11,91% do Tesouro Selic 2029 e 11,75% dos CDBs que rendem 100% do CDI. Mesmo com o desconto do IR da poupança, o Tesouro e os CDBs são mais vantajosos.
O que não vale é deixar esse dinheiro na conta do banco, por mais que ela renda. Além da tentação de usar o dinheiro à disposição, algumas dessas contas remuneram o valor depositado apenas após 30 dias e, muitas vezes, a remuneração é menor que a de um CDB ou do Tesouro Selic.
Segundo Carol, para constituir a reserva, assim como para quitar dívida, vale reduzir as despesas temporariamente ou fazer algo para garantir uma renda extra, como um trabalho freelance.
"Muitas pessoas fogem disso porque acham que vai ser privação eterna. Nunca mais comprar uma blusinha ou viajar, mas não necessariamente. Pode ser temporário, uma readequação para deixar os gastos sob controle. Investimento é perseverança e não tiro curto. Não se constrói reserva de um dia para outro, geralmente demora entre seis a oito meses", diz Carol.
Conheça algumas das principais aplicações da renda fixa
4. INVISTA
Com a reserva de emergência constituída, é hora de investir uma parcela do salário mensalmente.
De acordo com Carol, antes de escolher onde alocar o seu dinheiro, é preciso definir um objetivo para os investimentos. "É trocar de carro? Comprar casa própria? Reformar apartamento? E em quanto tempo? É algo de curto ou de longo prazo? Quando poupamos ou investimos sem um objetivo, podemos perder a motivação e o planejamento."
Em seguida, faça o seu teste de perfil de risco, para saber em qual tipo de investidor você mais se encaixa: conservador (que não aceita correr riscos), moderado (que aceita tomar um pouco de risco), arrojado (que tolera bem o risco) ou agressivo (disposto a correr muito risco em busca de retornos maiores e mais rápidos).
A dica dos especialistas, independente do perfil, é começar pesquisando para entender os produtos. Em seguida, leia os termos do contrato da aquisição daquele produto com a corretora ou com o banco e compare com outros produtos do mercado.
"Tudo bem errar os investimentos na curva de aprendizado se você for jovem. Mas, se está perto de se aposentar, há pouco espaço para erros. No começo assusta, mas a pessoa se acostuma com a sopa de letrinhas", afirma Carol.
Saiba como identificar seu perfil de investidor
Quando for a hora de aplicar o dinheiro, o recomendado é iniciar pela renda fixa, diversificando entre produtos pós-fixados, cuja remuneração varia ao longo do tempo de acordo com a Selic, prefixados, com a remuneração predeterminada no momento de compra, e híbridos, que combinam juros pré-determinados com a variação da inflação ao longo do prazo de investimento.
O ideal, segundo os especialistas, é ir diversificando a carteira de investimento aos poucos, sempre de acordo com o seu perfil.
Eles ainda recomendam investir 20% do que se ganha todos os meses. "Abaixo de 10%, fica pouco relevante. E, quanto maiores os objetivos, maiores os percentuais de investimentos. Quem começa a investir bem antes, até consegue começar com menos", diz Carol.
"Há pessoas que ganham bem, não têm dívidas, e guardam só um pouquinho porque acabam gastando tudo o que ganham, e aí não veem investimento crescer, o que pode ser desestimulante. Se o aporte não for relevante, a pessoa morre na praia", complementa a planejadora.
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