segunda-feira, 8 de janeiro de 2024



08 DE JANEIRO DE 2024
ARTIGOS

UM 2024 PARA ABERTURA DE CAMINHOS

Na mitologia dos orixás, Oxóssi é o caçador voraz que não erra o tiro ou não pode errar. Nos tempos modernos, eu substituiria a caça por atenção e controle da narrativa. Agora, pergunto quais são as narrativas propostas no campo das artes em uma capital como Porto Alegre. Em setembro do ano passado, dei início a uma galeria de arte no eixo central da cidade, a poucos metros da concentração dos principais espaços artísticos da cena local. A proposta da galeria é atender e gerar experiências para um público negligenciado da cidade, um público esquecido, um público que não se conecta com as curadorias existentes até então.

No processo de gestação da galeria, brincamos na vitrine com a seguinte pergunta: "As pessoas ainda ligam pra arte?". A tentativa era despertar reflexões sobre os efeitos que a arte pode gerar na vida de alguém. Desde setembro, a galeria abriu duas exposições, fez um sarau poético e conectou pessoas, famílias e amigos através do simples ato de prestigiar a arte.

A programação artística gaúcha está tão amarrada no colonialismo que não se percebe mais como Porto Alegre é plural e rica, com uma grande força ancestral preta. A arte em uma forma geral deveria ser instituída lá atrás, na base, nas escolas. Certo dia escutei de um agente do campo das arte que Porto Alegre é uma cidade em que tudo acontece e nada acontece. A Capital perde gente talentosa quando não acolhe sua negritude. Quanta gente vai embora da cidade por se sentir um forasteiro no seu próprio lar?

Encerramos 2023 e estamos contabilizando, em balanço simbólico, o saldo daquilo que progrediu, que derrocou e do que queremos daqui para frente. O ano de 2024 é regido por Bará, que deve representar um ano de movimento e abertura de caminhos. Desejo que Porto Alegre faça um pacto com a sua ancestralidade e se perceba, de uma vez por todas, como uma cidade plural e diversa, afinal, estamos no século 21 e manter o pensamento europeu no Brasil não está com nada. É hora de valorizar o que é daqui e que possamos fazer da arte a nossa flecha certeira.

Empresário - ANDERSON COELHO

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