30 DE OUTUBRO DE 2023
CARPINEJAR
O fim do fim de"Friends"
Friends nunca mais terá continuação.
O ator americano Matthew Perry, que interpretava Chandler, foi encontrado morto neste sábado, em sua casa, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Perry é o primeiro dos seis protagonistas da série a falecer, encerrando o sonho nostálgico de uma sequência.
Friends, para seus fãs, era como se fosse uma banda de rock, os Beatles da comédia romântica, em que três homens e três mulheres enfrentavam as provações da autonomia, os altos e baixos dos amores no bairro nova-iorquino de Greenwich Village, na ilha de Manhattan. Tinham entre 20 e 35 anos, e se reuniam sempre na cafeteria Central Perk, lutando para manter a cumplicidade e a lealdade ao longo dos testes do tempo.
Assim como o quarteto de Liverpool, o sexteto - formado por Matthew Perry, Jennifer Aniston, Lisa Kudrow, Courteney Cox, David Schwimmer e Matt LeBlanc - brilhou por 10 anos. Foram 236 episódios em 10 temporadas mágicas na rede NBC, gravadas entre 1994 e 2004, que resultaram em seis prêmios Emmy, um Globo de Ouro e dois SAG Awards.
Para se ter noção da popularidade da sitcom, antes mesmo do apogeu das redes sociais, o episódio final recebeu a audiência de 52,5 milhões de americanos.
Chandler Bing era o espírito do John Lennon do grupo, o irônico, o ansioso, o sonhador. O que falava demais, o que amava demais, o que se arrependia demais, o que reclamava demais do seu emprego. Chandler influenciou decisivamente uma geração, que adotou seus maneirismos descolados, suas roupas grunge, seu humor depressivo.
Quem não aprendeu inglês com ele? Quem não partilhava o ódio pelo emprego, a necessidade de se sustentar, de ser adulto, de ser responsável não fazendo aquilo de que gostava? Quem não tinha traumas com antigas namoradas? Quem não ficou em dúvida se era uma boa ideia casar-se com amiga?
Zombado pelos colegas que não entendiam ao certo qual a sua ocupação profissional (processamento de dados) e sem ter como exercer o seu dom (história em quadrinhos), ele representava a síntese angustiada de uma juventude buscando sua emancipação.
Para Chandler existir, Perry pagou caro.
Na autobiografia Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível: as Memórias do Astro de Friends, publicada no final de 2022, o ator confessou ter atravessado 14 cirurgias no estômago. Tomava diariamente 55 comprimidos de Vicodin, um analgésico à base de opioide, para suportar a rotina de gravações, e o vício do álcool o levou a acumular 15 internações de reabilitação.
Em seu balanço de trajetória, constatou que passou mais da metade de sua vida em clínicas de tratamento. Já a outra metade foi no estúdio.
Alcançou o maior triunfo de uma carreira: fazer um personagem inesquecível, a ponto de a ficção ser maior do que a sua realidade. Virou ator de um único papel, sua bênção e sua maldição, seu paraíso e seu inferno, sua loteria e sua falência.
Todos conheciam Chandler, nem todos conheciam Matthew Perry. Ninguém se esquecerá de Chandler. Mas quem se lembrará de Matthew Perry?
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