Como lidar com o momento de parar

Fim do ciclo de trabalho ainda é cercado de estigma, e especialistas recomendam planejamento para reduzir o impacto

Claude Madalena Rapkiewicz, 65 anos, inaugurou uma nova fase da vida no último mês de maio: aposentou-se. Enfermeira de uma unidade básica de saúde (UBS) de Porto Alegre, ela acolhia e direcionava pacientes, prestava atendimento domiciliar, conduzia exames preventivos de câncer, entre outras atividades. As mais de três décadas de trabalho foram trocadas por uma rotina de exercícios físicos e programas culturais, dedicação ao jardim e às viagens.

Para muitos, a aposentadoria é sinônimo de velhice. A palavra, em si, parece já ter uma carga negativa, chegando a ser evitada em interações sociais - ou, quando mencionada, vem acompanhada de explicações ou brincadeiras para aliviar o preconceito que pode ser da própria pessoa. Para Claude, o período sem trabalhar está sendo muito bem aproveitado.

- Não tenho problema de falar (que sou aposentada). Não acho ruim. É um direito que adquiri. Não me arrependo - conta. No início, ela estranhou um pouco. Sem planejamento prévio, viu- se um tanto perdida.

- Como vou preencher meu tempo? - questionava-se.

Muita gente encerra a carreira anterior e continua com vontade de trabalhar. Há quem siga na mesma atividade, enquanto outros escolhem caminhos distintos. Claude estava certa de que não gostaria mais de trabalhar, no que quer que seja, e vai se organizar com a renda que tem.

- Procurei não pensar muito no que vou fazer. Coisa para fazer não falta - diz a aposentada, que considera os dias de chuva os mais difíceis.

Preconceito

Psicóloga e doutora em Psicologia, Juliana Seidl atua como orientadora de carreira e para aposentadoria. Ela ainda considera muito comum a associação entre o encerramento do ciclo de trabalho e a velhice. Aposentadoria, acredita, trata-se de uma palavra carregada de um simbolismo negativo.

Esse preconceito, conforme ela, atrapalha no combate ao preconceito de idade, o chamado etarismo.

- Tem muita gente que ainda vê a aposentadoria como liberdade, mas também tem pessoas que veem como crise. Tem quem não quer se intitular aposentado, e trabalhamos como essa pessoa vai se apresentar para os outros. O termo ainda carrega um significado negativo. Como a própria etimologia da palavra diz, "retorne aos aposentos", saia da vida pública, fique parado em casa sem ser útil para a sociedade - reflete Juliana.

O que a consultora faz é tentar modificar esse pensamento como crença limitante, destacando o que significa se aposentar no século 21.

- Aposentadoria, hoje, é um privilégio. Não significa que você vai sair do mercado de trabalho e se tornar inútil. Tem pessoas que vão realizar sonhos: nova carreira, um hobby ou lazer, trabalho voluntário. Atendo pessoas que não continuaram trabalhando na aposentadoria. Pessoas que se dedicam aos netos, ao autocuidado, viajam. Sentem-se úteis - observa Juliana.

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