domingo, 29 de outubro de 2023


O fim da Idade do Bronze e o colapso da civilização

Muitos andam dizendo e escrevendo, não só em romances sobre distopias, que, diante de tantas guerras, mazelas, desastres ambientais e sanitários e crises em várias partes do planeta, o mundo está acabando. Não apenas religiosos em busca de fiéis assustados e líderes públicos e privados em busca de plateia apavorada e submissa andam falando em apocalipse, fim dos tempos e quetais.
1177 A.C - O ano em que a civilização entrou em colapso (Avis Rara - Faro, 254 páginas, R$ 54,90, tradução de Fábio Alberti), de Eric H. Cline, consagrado arqueólogo, historiador e professor de História e Antropologia, revisita o fato histórico que culminaria no fim da Era do Bronze e a destruição de uma das culturas mais prósperas da História.
Cline, que atualmente dirige o Instituto Arqueológico do Capitólio, da Universidade de George Washington, com base em pesquisas e anos de estudo mostra como em 1177 a.C os misteriosos e temíveis "Povos do Mar" invadiram o Egito. A marinha e o exército egípcios os derrotaram, mas a vitória foi apenas o começo do fim para o mundo civilizado da Idade do Bronze. Em poucas décadas não havia mais minoanos, micênicos, troianos, hititas ou babilônios. Culturas, economias, sistemas de escrita e arquitetura desapareceram.
Cline narra com habilidade e sedução invasões, revoltas, terremotos, secas e bloqueios no comércio internacional e a transição para a Idade do Ferro, e as perpétuas e inquietantes questões humanas de 1177 a.C. mostram-se atuais para nós, habitantes de um mundo com guerras, problemas climáticos e sanitários, crises entre países e blocos e perspectivas pouco otimistas em relação ao futuro. Mais do que nunca é preciso utilizar a História como mestra para tentar, ao menos, não repetir tantos erros deletérios e milenares. Entre a esperança e desesperança vivemos. Até quando? Eric está preocupado com a fragilidade de nosso mundo. Quem não está? Melhor não arriscar a marcação da data do apocalipse, que pode não ocorrer. Depende de nós.
 

Lançamentos

• Liberdade de Pensamento: Imprensa e Democracia (Exclamação, 102 páginas), do eminente advogado Hélio Faraco de Azevedo, 95 anos, Decano do IARGS, com belo prefácio do Desembargador Marco Aurélio Moreira de Oliveira, mostra a independência, o espírito democrático, o humanismo e o grande conhecimento jurídico do Dr. Hélio.
• A potência da liderança consciente (Gente Autoridade, 192 páginas), do experiente empresário, palestrante e mentor Daniel Spinelli, especialista em desenvolvimento humano, com prefácio de Mauricio Benvenutti, mostra como uma cultura mais humana potencializa resultados e alavanca a relevância e o impacto do leitor como líder.
• A menina que não sabia odiar (Editora Objetiva, 144 páginas), de Lidia Maksymowicz, nascida em 1940, traz comovente história da criança que sobreviveu ao Holocausto. Viveu dos 3 aos 5 anos em Auschwitz e diz não saber odiar, pois o ódio destrói. Reverencia nomes como Buda, Madre Teresa, Gandhi, Jesus e Luther King. É muito.

Nosso Brasil, divisões e mudanças

De acordo com os números das várias eleições realizadas nas últimas décadas, em níveis municipal, estadual e federal, e segundo os dados que constam nas pesquisas recentes medindo o humor de brasileiros e brasileiras, nosso Brasil é um país dividido. Em torno de um terço dos eleitores brasileiros não foi votar, anulou o voto ou votou em branco. Em torno de um terço do eleitorado tem votado em partidos que se posicionam no campo da esquerda; outro terço, aproximadamente, está mais inclinado à direita.
Claro que hoje em dia, especialmente no Brasil, conceitos sobre o que é esquerda ou direita estão meio pós-modernosamente vagos, embolados, ultrapassados e necessitando que façamos reflexões e tomemos ações a respeito eles. O que é centro e "centrão", por outro lado, a gente sabe faz décadas e, como dizem os italianos, que manjam de política, la nave va!
Estamos com um governo federal eleito, com quase um ano de atuação, quase quatro dezenas de ministérios, e creio que o mais novo normal e racional é, como sempre costuma ser, respeitar a lei, elogiar as coisas boas e criticar as ruins. Claro que as eventuais críticas devem ser bem embasadas e colocadas, sempre, com muito respeito, prudência e educação, pois anda por aí um certo "controle dos meios de comunicação". Mais não falo e nem me foi perguntado.
Nossos desejos e esperanças, como cidadãos-contribuintes pagadores de impostos, tementes a Deus e aos poderosos e que seguem na luta para ter ânimo de levantar da cama pela manhã, é que a Constituição, a Lei das Leis, e os demais diplomas legais e livrinhos sejam respeitados. Esperamos que nossa ainda jovem democracia tenha longa e bicentenária vida, e que os Três Poderes - Executivo, Judiciário e Legislativo - atuem com independência e harmonia, de acordo com o que está escrito lá na Constituição Cidadã de 1988.
No fundo, os cidadãos rezam para que os poderosos caiam na real e se conscientizem de que ninguém deve estar (muito) acima da lei e dos outros e que ninguém é eterno. Depois do jogo de xadrez, o rei, a rainha, o bispo, os cavalos, as torres e os peões vão direitinho para a mesma caixa, todos juntos. É bom e recomendável que os poderosos de plantão leiam o Eclesiastes, o livrinho da Bíblia com a sabedoria do Rei Salomão, que traz alertas sobre as vaidades e outras coisinhas eternas.
Muitos contribuintes têm sonhos de noite de verão com coisas como parlamentarismo, voto impresso, a criação de um Conselho Nacional de Notáveis, democracia raiz e por aí vai. Alguns até sonham com o aparecimento de novas alternativas que não sejam os velhos polos que estão aí. Terceira ou quarta vias, coisas nessa linha. A vida é sonho e os sonhos, sonhos são, disse o Calderón de la Barca.

A propósito

Como sempre e mais do que nunca, devemos fazer o possível pelo bom desenvolvimento econômico, sustentável de preferência, com pouca ou nenhuma inflação, empresas saudáveis, empregos e contas públicas e privadas em ordem. Quando a economia vai bem, a política perde, ao menos um pouco, seus poderes e suas vaidades e as coisas tendem a ficar mais equilibradas. Não existe milagre nem almoço grátis, e é bom lembrar o velho Tancredo Neves, que disse: é proibido gastar e não podemos nos dispersar. Aí, o resto não será silêncio.

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