sábado, 14 de outubro de 2023


14 DE OUTUBRO DE 2023
CINEMA

MAIS SANTOS DO QUE DEMÔNIOS

Sequência de clássico que completa 50 anos de estreia, ?O Exorcista: O Devoto? perde o foco do tema central da história

O diretor e roteirista David Gordon Green decidiu transformar o seu novo filme, O Exorcista: O Devoto, que estreou nos cinemas na última quinta-feita, em um longa- metragem que unisse todas as tribos religiosas em uma espécie de "vingadorização" do exorcismo.

O cineasta, em um processo de abraçar uma maior gama de crenças, acabou se esquecendo do título do projeto para que foi contratado e, principalmente, da franquia para a qual deveria dar continuidade. A diversidade religiosa é importante, principalmente em tempos de intolerância, mas acaba tirando o longa de sua base e deturpando a ideia inicial em prol de uma mensagem que se torna gratuita e esvaziada.

Em O Devoto, o público conhece a história de Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), que em uma viagem de férias para o Haiti acaba vendo a sua esposa grávida ficar gravemente ferida durante um terremoto. A mulher acaba morrendo, mas a filha do casal, Angela (Lidya Jewett) sobrevive. Corta para 13 anos no futuro e Victor é um pai protetor. Em uma brecha que dá para a herdeira, ela acaba sumindo em uma floresta com a amiga Katherine (Olivia O?Neill) por três dias.

As meninas retornam com pés machucados, sem memória, uma certa desorientação e um demônio - e não um qualquer. A entidade, de acordo com o diretor e corroterista David Gordon Green, é estudada e já conhece tudo o que os demonologistas sabem - ou seja, preparada para a batalha. Eis que Victor entra em contato com a única pessoa conhecida que já enfrentou algo semelhante: Chris MacNeil (Ellen Burstyn), que escreveu um livro sobre o episódio que viveu com a sua filha Regan (Linda Blair), meio século antes, fazendo desta uma legacy sequel.

Projeto

A ideia, em sua concepção, poderia funcionar, só que O Exorcista: O Devoto não encontra o mesmo motivo de ser apresentado pelo título original - e muito menos o terror genuíno entregue pela obra de 1973. O Devoto é a primeira etapa de uma trilogia planejada - a segunda, The Exorcist: Deceiver (O Exorcista: Enganador, em tradução livre), tem estreia marcada para 18 de abril de 2025 - e que começa com o pé esquerdo, tanto na recepção por parte da crítica quanto do público, que não foi em peso para assistir ao primeiro capítulo nos cinemas. A bilheteria de estreia ficou abaixo do esperado (US$ 26,4 milhões no primeiro final de semana nos EUA) e acende um alerta para a Universal, que desembolsou nada menos do que US$ 400 milhões apenas para comprar os direitos da franquia.

É por essa pomposa quantia que impressiona o fato de David Gordon Green, que escreveu o roteiro ao lado de Peter Sattler, ter fugido da ideia básica do título original - ainda mais se levar em consideração que o novo longa-metragem é uma continuação direta da obra cinquentenária.

E o novo filme, que dá sequência aos eventos de O Exorcista, chega justamente no ano de aniversário de cinco décadas do clássico dirigido por William Friedkin e, certamente, o longa-metragem definidor do tema nos cinemas merecia um presente melhor. Nesse caso, até ganhar nada seria melhor.

CARLOS REDEL CARLOS.REDEL@ZEROHORA.COM.BR

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