quinta-feira, 12 de outubro de 2023


12 DE OUTUBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

DÉFICIT NAS SALAS DE AULA

Repetem-se nos anos recentes os alertas de que o Rio Grande do Sul correria o risco de enfrentar um quadro grave de escassez de professores em um futuro nem tão distante. Um estudo do Serviço Social da Indústria (Sesi) divulgado na terça-feira dá números à preocupação e situa melhor o problema no tempo. Conforme o trabalho, em 2040 o Estado deve ter um déficit de 10 mil docentes no Ensino Básico.

Aos desavisados, a possibilidade de um apagão de professores pode parecer uma atribulação ainda distante. Mas deve-se atentar que ter profissionais da área à disposição, de acordo com a demanda, leva tempo. É preciso formá-los e, tão importante quanto a quantidade, oferecer-lhes cursos de licenciatura qualificados. Os esforços para evitar que faltem mestres nas salas de aula não podem tardar.

Não há novidade na constatação de que uma das principais razões para o desinteresse pelo magistério decorre da remuneração. É uma queixa antiga e recorrente, em especial na rede pública estadual. Sem salários atraentes, mesmo as pessoas mais vocacionadas acabam optando por outra profissão. Como é uma categoria numerosa, a solução dessa equação passa necessariamente por uma reversão do cenário presente de dificuldades financeiras do Executivo gaúcho. É um quadro complexo, portanto.

A qualificação dos docentes merece igual atenção. Ainda durante esta semana, o ministro da Educação, Camilo Santana, referiu um cenário inquietante. Dados da pasta apontam que mais de 80% das pessoas que ingressam em cursos de licenciatura no país entram na modalidade de ensino a distância (EAD). Nas instituições privadas, o percentual supera 90%. Faculdades nesse modelo, lembrou o ministro, têm apresentado deficiências. A situação demanda mais preocupação quando é referente à preparação de profissionais que, depois, terão a responsabilidade de ensinar as novas gerações. A formação continuada, ao longo da jornada profissional, é outro ponto com extrema relevância.

O estudo do Sesi mostra ainda uma queda significativa no interesse em cursos de licenciatura no Estado. Números de matrículas, ingressantes e formados caíram em patamares próximos de 50% de 2010 a 2021. Ao mesmo tempo, é nítido que a idade média dos ativos da categoria vem avançando. Mais professores aproximam-se do período da aposentadoria. Mesmo que o número de alunos se reduza nas próximas décadas pela demografia do Estado, a conta não fecha.

Em setembro, a Assembleia aprovou projeto do Piratini para criar o programa Professor do Amanhã. Consiste em oferecer bolsa mensal de R$ 800 para alunos de licenciatura em universidades comunitárias do Estado, além do mesmo valor por estudante para as instituições. O objetivo é estimular a formação de professores. No primeiro ano da iniciativa, serão mil beneficiados. Espera-se que o programa ajude a começar a reverter o quadro projetado pelo Sesi e possa ser ampliado nos próximos anos, formando mestres em maior quantidade e satisfatoriamente qualificados para ensinar a aprender, conforme os novos desafios da educação, em uma era de transformações tecnológicas cada vez mais rápidas.

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