segunda-feira, 16 de outubro de 2023


16 DE OUTUBRO DE 2023
+ ECONOMIA

A geopolítica da crueldade

Centenas de milhares de pessoas são forçadas a abandonar o pouco que têm para se desviar de ataques mortais. E muitas vezes, não conseguem. São seres humanos israelitas e palestinos. Os primeiros têm o trauma de um sangrento ataque terrorista em 7 de outubro. Os outros vivem há décadas em situação precária, com acesso intermitente a água, luz e comida.

Na sexta-feira, o Conselho de Segurança de Organização das Nações Unidas (ONU) foi incapaz de produzir sequer um documento condenando a violência. A criação de corredores humanitários para tirar civis da mira de mísseis pareceu inalcançável.

Essas áreas que possibilitariam a civis abandonar zonas de conflito em segurança também permitem transporte de alimentos, água, eletricidade e medicamentos para áreas de conflito. Como madres teresas não fazem guerra, existe o risco de uso para a entrada de armas e combustível. Essa é uma das origens do impasse.

Outra é a geopolítica da crueldade. O bem-estar não é a prioridade. Ao ser criado, em 1987, o Hamas apontava dois objetivos: programas sociais para os palestinos e a destruição de Israel. A meta de Israel é destruir a "capacidade terrorista" do Hamas, como disse o embaixador do país na ONU, Gilad Erdan, que afirmou:

- O Hamas cometeu essa atrocidade porque eles contam com, e peço desculpas pelo que estou prestes a dizer, mas eles contam com a ONU para vir em seu socorro.

A organização criada depois do horror da Segunda Guerra para garantir a paz e a segurança deu origem ao Estado de Israel. Vive uma profunda crise há décadas, que agora se aprofunda.

Mas geopolítica da crueldade tem outros sócios. O Irã foi grande financiador do Hamas. O Catar - onde ocorreu uma Copa do Mundo - banca escolas e orfanatos supostamente administrados pelo grupo. Na quinta-feira, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, pediu ao colega da Síria, Bashar al-Assad, para "acabar com os crimes do regime sionista contra a nação palestina oprimida". A Síria é aliada da Rússia, à qual ofereceu recursos para o ataque à Ucrânia.

No sábado, teria havido reunião entre Irã, Hamas e Jihad Islâmica. No mesmo dia, os Estados Unidos mandaram ao Mediterrâneo um segundo porta-aviões - depois de já ter enviado o maior de todos. Israelenses e palestinos sofrem como poucas vezes em sua história de dores. O mundo assiste em suspenso. E a geopolítica da crueldade se impõe.

MARTA SFREDO

Nenhum comentário: