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quinta-feira, 26 de outubro de 2023
26 DE OUTUBRO DE 2023
"Olé"
Atravesso a Espanha em viagem com Beatriz. Vim conhecer as cidades de meus poetas prediletos: Luis de Góngora y Argote e Federico García Lorca, respectivamente Córdoba e Granada. Ali, em cada uma delas no sul andaluz, ambos nasceram e morreram.
Pensei que deixaria o futebol de lado, mas não consegui.
Numa apresentação de música flamenca, em tradicional cueva, espécie de salinha escura com duas filas indianas de cadeiras encostadas nas paredes, em que os dançarinos bailavam no centro com seus sapateados maravilhosos e alucinados, eu descobri o que anda faltando para meu Internacional na última década. Veio como um lampejo.
Os dançarinos não se apresentavam para o público, mas para eles. Um queria impressionar o outro. Um incentivava o outro. Um motivava o outro. Um desafiava o outro. Pareciam se xingar com elogios.
Eles se entreolhavam para decidir os próximos passos, as próximas músicas, os próximos números. Nem lembravam que estavam sendo olhados.
Nós, cerca de cem pessoas, éramos convidados secretos para espiar uma festa que se desenrolava unicamente entre eles. Estávamos presentes para testemunhar uma sintonia antiga, uma parceria de giros e dramas. Não brilhavam por nós, mas para o colega ao lado.
Trocam-se os saltos pelas chuteiras e emerge uma grande verdade sobre o sucesso.
O plantel do Inter não deveria entrar em campo pela torcida, pelo técnico, pelo presidente, pelo salário, sequer por algum título, mas pela admiração de atuar junto. Que eles tenham a satisfação da parceria, de fazer o melhor para quem se encontra fardado com a camisa vermelha.
Os bailarinos flamencos se exaltam para se superar em toda a exibição. Eis a senha da beleza, da fúria, do arrebatamento, dando o máximo de si para surpreender o seu par, e mais ninguém. Que a mágica se aplique ao grupo colorado: que esqueça os comentaristas, que esqueça os palpiteiros, que esqueça os resultados.
Que possua o contentamento de merecer um suspiro de seu companheiro pelo desarme, de provocar a gratidão pelo passe perfeito, de gerar um sorriso pelo cruzamento exato na cabeça. Que eles se idolatrem. Que eles se encantem com o que são capazes de produzir como elenco.
É desfrutar da dimensão de um momento único, irrepetível, da vida profissional.
Daqui a 10 anos, encher a boca para dizer que dividiu o campo com a visão exuberante de Alan Patrick, ou com as defesas seguras de Rochet, ou com as arrancadas avassaladoras de Enner Valencia.
Acima de tudo, formam uma turma de amigos. É algo que nenhuma derrota pode arrancar. Nenhuma eliminação pode tirar.
Os jogadores precisam recuperar a comemoração interna, a vibração mútua pelo entrosamento, por realizar uma jogada longamente ensaiada nos treinos, por antever a posição futura em infiltração na pequena área.
É a explicação para a goleada histórica do Inter diante do Santos. Inter jogou somente para o Inter. É a origem do "olé!". E assim, com o feitiço que iguala o tablado ao estádio, continuar jogando do mesmo jeito: com o espírito coletivo do dueto.
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