Batalhão grisalho
E o nosso Rio Grande velho, vejam só, é o Estado brasileiro com o maior número de velhos. Ops! Velhos, não! Idosos. Idoso também é dose. Às vezes, muitas doses. Overidoses, se é que me permitem o trocadilho ruim. E não apenas de remédios. Também de preconceitos, de humilhações e até mesmo de exploração por estranhos e familiares. Leio aqui que idosos são o alvo preferido dos golpistas digitais. Vejo na TV que velhinhos eram maltratados numa clínica clandestina. Sei de inúmeros casos em que filhos e netos já bem grandinhos continuam mamando na aposentadoria dos avós.
Ainda assim, o batalhão da terceira idade resiste bravamente. Veja-se os números oficiais do Censo Demográfico divulgados na semana passada pelo IBGE: em 2022, no ano passado, portanto, havia 2.193.416 idosos no Estado - 20,15% da população -, um aumento de 50,27% em relação ao Censo de 2010, quando o RS tinha 1.459.597 (13,65% da população) com mais de 60 anos.
E aqui está o primeiro pomo da nossa disconcordância, como diria o prefeito Odorico Paraguassu (se você tem mais de 60, certamente sabe quem foi ele). Pois 60 anos é lá idade de velho? Nem aqui nem na China, dá vontade de responder. Mas tanto aqui quanto na China continua sendo esse o limite etário legal para alguém ser "acusado" de idoso. Em vários outros lugares do mundo, tanto devido à maior longevidade das pessoas sadias quanto por questões econômicas e previdenciárias, este limite vem sendo ampliado. Mas basta o indivíduo sexagenar que já começa a ser olhado com desconfiança pelos mais jovens - ressalvadas as exceções sensatas, evidentemente.
E a primeira manifestação de menosprezo costuma ser a forma de tratamento. Velho é a pior, expressa algo ou alguém que não serve mais, que deve ser deixado de lado. Idoso é o termo oficializado pela legislação e o mais aceito socialmente, mas também tem lá o seu lado pejorativo. Sênior tem trânsito no ambiente empresarial, mas sempre passa a impressão de que o detentor do título pomposo está prestes a ser aposentado ou demitido.
Terceira idade não só indica que existe uma primeira e uma segunda na frente, portanto merecedoras de maiores atenções, como também coloca no mesmo barco (de Caronte?) os recém-encanecidos e os centenários. Melhor idade, cá pra nós, só não é mais infame do que senhorzinho e senhorinha.
Qual a saída, então? Ora, todos os senhores e senhoras que conheço, e mesmo os que não conheço, têm nomes próprios, independentemente de suas idades.
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