O MAPA DA PAZ
O Brasil fez nas últimas décadas, com diferentes governos, a defesa reiterada de uma reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Prega uma conformação que reflita melhor a atual correlação global de forças. Busca ainda um protagonismo maior, reivindicando um posto de membro permanente do órgão. Está diante do país, nestes dias tempestuosos, a oportunidade de se mostrar à altura do papel internacional postulado. O ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel, instalando uma nova guerra no Oriente Médio, vai exigir esforços diplomáticos significativos para ao menos se começar a construir bases para a solução do conflito.
O Brasil assumiu no início do mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança. Ao longo de outubro, tem a prerrogativa de definir os assuntos tratados no colegiado. Surge assim a oportunidade de o país conduzir negociações que possam ser o embrião de uma paz mais duradoura.
Não se ignora o tempo. É ingenuidade imaginar existir a perspectiva de solução no curtíssimo prazo. Nada impede, porém, que sementes sejam lançadas. O Brasil convocou uma reunião do conselho no domingo. Foi encerrada sem qualquer resolução, devido a divisões que hoje parecem incontornáveis. Mas não há saída fora da diplomacia. É preciso insistir nesse caminho.
Nos fóruns internacionais, o Brasil tem um histórico consolidado de buscar posições equilibradas, de abertura ao diálogo e de tentar ser um facilitador de entendimento entre outras partes. Isso em nada é contraditório com a condenação do país à ofensiva sanguinária contra Israel. O Hamas, afinal, é apenas uma facção que vê a violência desmedida como meio legítimo de alcançar seus objetivos. Não pode ser incluído, portanto, em qualquer negociação de fôlego que vise à pacificação do Oriente Médio.
No Conselho de Segurança e demais instâncias, o Brasil deve ser voz ativa a defender a fórmula com maior viabilidade de trazer uma paz perene: a criação de um Estado palestino, que coexista ao lado e em harmonia com Israel. O mapa existe e o caminho está traçado. Basta retomar a trilha dos Acordos de Oslo, assinados há 30 anos, simbolicamente selados com um aperto de mão entre Yasser Arafat, então presidente da Organização para a Libertação da Palestina, e Yitzhak Rabin, à época premier israelense - ambos foram agraciados com o Nobel da Paz, no ano seguinte, em 1994, junto com o chanceler de Israel, Shimon Peres.
Os tratados estabeleciam etapas para a criação de um Estado palestino em áreas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Ao longo do tempo, no entanto, determinações não foram cumpridas e as expectativas foram frustradas. Ainda no mês passado, na ONU, União Europeia e países da Liga Árabe tentaram estimular a retomada de tratativas.
Cedo ou tarde, será preciso voltar às mesas de negociações diplomáticas, com Israel e interlocutores da Palestina demonstrando boa vontade para transigir, cessar ataques e opressões, e estabelecer acordos internacionalmente reconhecidos.
Seria positivo se o Brasil - onde cidadãos de origem árabe e da comunidade judaica convivem em concórdia - conseguisse contribuir. Também poderia haver maior esperança se o Conselho de Segurança da ONU, mais amplo, fosse capaz de cumprir o seu papel de evitar e pôr fim a outros conflitos, com resoluções respeitadas. O inequívoco é que o terror e a guerra são insustentáveis como forma de se perseguir a paz perdurável. Pelo contrário, alimentam mais ódios.
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